Bolsonarista pifou

Jair Bolsonaro planejou fazer uma demonstração de força neste domingo e acabou mostrando que não está conseguindo conter a erosão do falso mito. A manifestação bolsonarista pifou no tradicional termômetro da política nas ruas, que revela-se na concentração de gente na Avenida Paulista, em São Paulo.

O prestígio do presidente não é suficiente nem para preencher de seguidores o espaço entre o Masp e a Fiesp. Em São Paulo o bolsonarismo não tem força para ocupar duas quadras, em outros estados a coisa vai ainda mais mal.

O teste de mobilização política colocado em prática a mando do próprio Bolsonaro serve para avaliar como poderá ser o cenário no ano que vem para a sustentação política do candidato à reeleição.

Não falta dinheiro para Bolsonaro, um numerário que, aliás, já deveria estar sendo investigado por órgãos responsáveis pelo controle do sistema eleitoral, na sua origem e a devida aplicação. Manifestações em todo o país não saem barato. E existem regras jurídicas claras sobre isso.

Bolsonaro está no poder, o que lhe garante farto apoio material, como garantiria a qualquer outro, mas é óbvio que no seu entorno existe um tremendo vazio de liderança e organização. Na sua incompetência, ele não criou bases de sustentação, em recursos humanos para a articulação com a sociedade civil, na criatividade política e na capacidade logística.

Ao contrário de Lula ou outro candidato que o PT resolver colocar na disputa, o líder direitista não conta com instituições civis como suporte eleitoral, tampouco conquistou o apoio de sindicatos, da área da cultura, da educação, de jornalistas, além de tantas outras categorias sociais organizadas, que costumam servir ao PT até mesmo para criar complicações aos adversários.

Mesmo com este suporte histórico, a última manifestação da esquerda comprovou que o limite de adesão popular do PT está muito abaixo do que sempre foi. Porém, ainda que demonstre dificuldade de ampliação do apoio nas ruas, o partido de Lula conta com uma estrutura material historicamente ligada ao seu interesse. Com isso, o petismo garante pelo menos umas quadras da Paulista.

Não é o que acontece com Bolsonaro, isolado politicamente de tal forma, que só poderia obter apoio de massa se isso ocorresse como um fenômeno espontâneo, que é ilusão criada pela propaganda. Por mais que Bolsonaro tenha sido favorecido na sua eleição por componentes de fato espontâneos, eles foram devidamente induzidos e espertamente explorados.

O problema é que movimentações espontâneas da sociedade não costumam se repetir, muito menos em torno da mesma personalidade política.

Tampouco existe a possibilidade de estimular a adesão do povo com bandeiras pífias como voto impresso, ainda mais numa situação de pandemia, que se juntou aos problemas na segurança, com a falta de empregos, na falência econômica, com a desestabilização social, na corrupção generalizada e a impunidade garantida de volta.

São as questões dramáticas que lá atrás elevaram Bolsonaro a um papel de dimensão acima demais da sua mediocridade política e pessoal, com variados problemas, da maior gravidade, que no entanto não foram atacados como prometido.

A Avenida Paulista só encheria de ponta a ponta com Bolsonaro se apresentando como alguém que tocou com seriedade e de forma efetiva nesses problemas. Mas acontece que a situação atual não permite mais crescer nas ruas apontando culpados, até porque agora é ele o responsável por essas tantas desgraça.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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