Bolsonaro, novamente

No início de junho eu havia prometido a mim mesmo e aos pacientes 15 leitores que se dão ao trabalho de ler os meus escritos, não mais falar do insano que assumiu a presidência da República e, com a sua irresponsabilidade, incompetência, perniciosidade e repetidas mentiras, tanto mal vem fazendo ao Brasil. Entendi, então, que de desequilibrado mental não se fala; trata-se. Pois, estou achando que, por mais verdadeira que seja aquela conclusão, não mais poderei cumprir a promessa. Sobretudo porque há momentos em que o silêncio e a omissão deixam de ser justificáveis e passam a ser delituosos. Sinto muito, meu prezado Rogério Distefano, mas estou aqui, de novo, com o inquilino do Palácio do Planalto.

Dias antes das eleições, o senhor Jair Messias Bolsonaro superou-se. Com o propósito de atingir o governador João Doria, que o assusta como adversário na eleição de 2022, comemorou o que seria o fracasso de um medicamento desenvolvido em parceria com o Instituto Butatan com o propósito de salvar vidas em um país que já contabiliza mais de 167.000 mortes pelo novo coronavírus. Um “evento adverso grave” teria ocorrido, o que levou a Anvisa, órgão do governo federal, a, precipitadamente, suspender a realização de testes com o imunizante. “Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos a toma-la” (sic) – exultou o capitão defenestrado, proclamando: “Mais uma que Jair Bolsonaro ganha!”.

No dia seguinte, constatou-se que o evento adverso grave fora a morte de um voluntário que havia cometido suicídio… E aí, como ficou s. exª.? Não ficou. Trocou de assunto e chamou de “maricas” os brasileiros que adotam medidas de proteção contra a Covid 19.

Quer dizer, o homem não tem mesmo jeito. Nem com tratamento psiquiátrico.

Outro dia, recebeu um corretivo do general Edson Pujol, comandante do Exército: “O Exército não pertence ao governo nem a partidos políticos. E Exército é uma instituição de Estado, e sua missão não muda a cada quatro anos”.

No entanto, como registrou o jornalista Dacio Malta, filho de Octávio Malta, do tempo de Samuel Wainer, o governo está abarrotado de militares e “o Exército vem perdendo dia a dia a sua credibilidade, por participar de um governo dirigido por um cidadão que, segundo definição do general Ernesto Geisel, foi ‘um mau militar’”.

Ao ameaçar os EUA de Joe Biden com pólvora, então, o capitão Messias expôs definitivamente o Exército nacional ao ridículo.

Dacio tem certeza de que o capitão, na verdade, detesta o Exército. Ele se cerca de militares por algumas razões, entre as quais acreditar que eles podem ser úteis em caso de alguma emergência constitucional. Além do que, ao admoestar, humilhar ou despedir um militar, como comandante-em-chefe, ele se vinga da maneira como foi posto para fora do Exército.

Por outro lado, na Folha de S. Paulo, a colunista Mariliz Pereira Jorge disse o que nós todos gostaríamos de dizer. Faço minhas as suas palavras: “Não aguento mais ouvir a voz de Jair Bolsonaro. Não importa o que ele diga. Desenvolvi um tipo de fonofobia do presidente. Não suporto qualquer som emitido por ele. Tanto faz se está acuado, raivoso ou histérico. Se está feliz me irrita ainda mais, porque deve ser à custa da desgraça de alguém”.

E continua: “Aquela fala sem ritmo, ao mesmo tempo com pausas nervosas, típicas de quem não consegue formular um raciocínio, é gatilho para o sistema de repulsa entrar em ação. O sujeito abre a boca e minha cabeça dói, porque lá vem mentira, provocação, alguma atrocidade e um festival de preconceitos…”.

Mais: “Em 24 horas, ele diz que somos um país de maricas, comemora a interrupção dos estudos da vacina contra a Covid sobre o cadáver de um voluntário, desdenha de uma segunda onda da doença e quer resolver as relações com os Estados Unidos com pólvora. Quem mais consegue suportar isso?”.

Ora, Mariliz, os infelizes que o colocaram no poder e, idiotamente, ainda o tem como grande líder! Sofre, Brasil!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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