O Brasil na câmara de gás

Os agentes da PRF não fizeram uma abordagem policial; cometeram um crime

Na cidadezinha do Nordeste, Genivaldo de Jesus Santos é assassinado no porta-malas da viatura transformada em câmara de gás. Um dos assassinos lança o veneno sobre Genivaldo como quem aplica inseticida para eliminar uma barata.

Genivaldo grita e se debate em desespero. Suas pernas pedem socorro. Genivaldo pede socorro. Mas não será ouvido. Vai desmaiar e morrer nos próximos minutos o cidadão de Umbaúba, Sergipe. Brasil. Os agentes da Polícia Rodoviária Federal não fizeram uma “abordagem policial”. Cometeram um crime, sem dar chance de defesa à vítima. Homicídio qualificado, segundo o Código Penal.

Também está errado referir-se à chacina na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, como “operação de inteligência”. Não podemos repetir essa ignomínia e, muito menos, aceitá-la, sob pena de nos tornarmos cúmplices. Nossa indignação tem que dar às coisas os nomes que elas têm: carnificina, mortandade, matança, morticínio, assassinato em massa. Quais os crimes atribuídos aos mortos? Sua culpa, sua máxima culpa, foi terem nascido pretos e pobres.

O governador Cláudio Castro e as autoridades de (in)segurança têm que responder por essas execuções. Sem qualquer freio ou controle, excitada pelo frenesi de violência do bolsonarismo, a polícia do Rio age sem se distinguir de esquadrões da morte ou grupos de extermínio.

O massacre foi planejado para deixar rastros de sangue e terror, intimidar e imobilizar a sociedade e as instituições. Na chacina da Vila Cruzeiro, como na do Jacarezinho, um ano atrás, os comandos policiais desafiaram explicitamente a ordem do STF de só fazer incursões nas favelas em situações excepcionais.

Nesta semana funesta, não pode passar em branco a hostilidade de empresários do Rio Grande do Sul que levou ao cancelamento da viagem do presidente do STF, Luiz Fux, para evento no estado, por questão de “segurança”. O bolsonarismo arreganha os dentes e prenuncia a radicalização extremista do período eleitoral.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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