Novo Dicionário Bolsonarista corrige palavras como ‘corrupção’

Durante anos, a esquerda ensinou errado pra vocês o significado dos termos’, justificou o presidente

Alucinado pela ideia de manejar seu rebanho nos limites de uma narrativa paralela que o torne indestrutível,
incorruptível e imbrochável, Jair Bolsonaro apresentou o Novo Dicionário Bolsonarista.

“Durante anos, a esquerda ensinou errado pra vocês o significado das palavras. Pedi pro Pazuello arrebanhar um grupo de pastores ligados ao MEC para produzir um novo dicionário ilustrado, assim vocês vão entender essa porra direito.”

Eis os novos significados de algumas palavras.

Corrupção: ato que só existe se descoberto, o que em geral ocorre quando não se controla a polícia, a imprensa e o Judiciário.

Cultura: conceito forjado 
por homossexuais que querem mamar nas tetas do Estado.

Ditadura: regime totalitário implementado para impedir regime totalitário da esquerda.

Eleição: ritual fraudado para escolher representantes no governo federal, estadual e municipal, a ser prontamente impugnado se —e somente se— os eleitos forem esquerdistas.

Imprensa: conjunto de profissionais que reproduzem aquilo que o governo determina nos meios de comunicação (cf. “porta-voz”).

Judiciário: conjunto de executores das determinações da Presidência da República.

Pedofilia: prática repugnante e criminosa de estimular a sexualização de crianças, disseminada exclusivamente em livros esquerdistas e filmes produzidos por opositores do governo Bolsonaro.

Polícia: instituição primordial para garantir a tranquilidade do presidente da República, além de manter os pobres sob controle, perseguir esquerdistas e prender opositores do governo.

Procurador-geral da República: profissional destacado pelo Estado para assegurar a tranquilidade do presidente da República, além de atacar esquerdistas, opositores do governo e professores da USP.

Prótese: item de primeira necessidade no âmbito do arsenal fálico de uma nação soberana e deve ser custeado pelo governo

Religião: prática adotada para semear valores básicos como o armamentismo, a meritocracia e a heterossexualidade, além de alertar para o perigo de ideias comunistas como repartir o pão, curar enfermos sem receber nada em troca, oferecer a outra face ou amar ao próximo.

Tortura: não temos uma definição para dar, simplesmente ignoramos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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