Bolsonaro decreta sigilo de cem anos para resultado das eleições

Ciente de que esconder informações é a única política eficiente de seu governo, presidente prometeu a promulgação do AI-100

Empenhado em assegurar a liberdade de expressão, Jair Bolsonaro resolveu decretar sigilo de cem anos em tudo que estiver ao seu alcance. “Dependendo do resultado das eleições, a gente vê o que faz. Se der o que eu quero é porque o sistema funciona. Se der outra coisa, a apuração vai ficar secreta por cem anos e não vou divulgar porra nenhuma”, explicou, batendo os pezinhos. “O Brasil é meu e eu faço o que quiser com ele”, disse, enquanto mostrava a língua.

O presidente já decretara sigilo para sua carteira de vacinação, para os acessos de Carlos e Eduardo Bolsonaro ao Planalto, para o processo militar que não puniu Pazuello por participar de um ato político, entre outros.

Ciente de que esconder informações é a única política eficiente de seu governo, Bolsonaro prometeu a decretação do AI-100. Os principais artigos serão:

1) Ampliar o caráter confidencial do orçamento secreto para cem anos;

2) Nunca divulgar os extratos do cartão corporativo;

3) Garantir que os conteúdos dos celulares do capitão Adriano Nóbrega fiquem ocultos;

4) Decretar sigilo indeterminado para a imprensa, o Congresso e o STF;

5) Impulsionar anonimamente a distribuição anônima de notícias com fontes anônimas;

6) Zelar pelo silêncio de Leonardo DiCaprio, Anitta e aquele cara lá que fez o filme do Hulk;

7) Desligar os radares que monitoram o desmatamento da Amazônia;

8) Sabotar o censo, o IPCA e quaisquer estatísticas oficiais;

9) Criptografar os ingredientes reais do McPicanha;

10) Promover o indulto de aliados em nome da liberdade de expressão.

Para manter a coerência, a data de implementação do AI-100 foi mantida em sigilo. “É um centenário inteirinho sem denúncias de corrupção para o Brasil crescer de verdade. Segredo acima de tudo, sigilo acima de todos”, celebrou. Em seguida, soltou um pum e decretou sigilo de cem minutos sobre a autoria.

Depois de substituir o portal da transparência por uma foto de Brilhante Ustra, Jair Bolsonaro garantiu que as instituições estão funcionando. “Tava tudo lá no meu programa de governo. Eram três slides bem claros: 1) Nunca trabalhei e não vai ser agora que vou trabalhar; 2) Vou lutar o tempo todo contra inimigos imaginários; 3) A única coisa que prometo é sabotar a democracia”, explicou o presidente no único evento oficial de sua agenda, no qual ele não fez mais do que atacar as urnas eletrônicas.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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