Carta a Krenak: tua imortalidade faz parte da construção da democracia

Querido Krenak,

A notícia de tua eleição para a Academia Brasileira de Letras me encheu de “infinita esperança”, como diria Martin Luther King. A esperança de que possamos entrar definitivamente numa etapa da nossa sociedade onde todos possam fazer parte de forma plena. Nunca mais um Brasil sem indígenas, sem negros, sem mulheres e sem sua diversidade que é nossa maior força.

Tua escolha não é apenas uma reparação histórica. É a esperança de que o futuro seja reinventado, desta vez com a capacidade de permitir que todos possam transformar seus sonhos mais íntimos em realidade. E não apenas em esperança.

Ao ser escolhido para a Academia, não é você quem ganha a imortalidade. Isso você já havia obtido ao espalhar tua visão de mundo e tua sabedoria. São eles, Krenak, que ganham legitimidade, ao finalmente aceitar o pensamento indígena como parte de um Brasil plural.

Te escrevo apenas para te felicitar e dizer que a decisão faz parte da construção da democracia. Não aquela do Três Poderes, ainda que também seja fundamental. Falo aqui da “Democracia do Conhecimento”, um conceito que vai muito além da democracia liberal ou da democracia eleitoral.

O reconhecimento, como diz a definição do termo, da existência de múltiplas epistemologias e formas de conhecimento, sem hierarquias. Uma democracia que permite que o conhecimento seja criado e representado de múltiplas formas, seja pela arte, ciência ou meditação.

O conhecimento como uma “ferramenta poderosa para agir no sentido de aprofundar a democracia e lutar por um mundo mais justo e saudável”.

Essa luta por um mundo mais justo e saudável foi o que você escreveu na introdução de meu último livro, ao lado de Juliana Monteiro, “Ao Brasil com amor”. Ali, você fala sobre o “corpo território” e as “cosmologias que totalizam uma visão sistêmica de vida com seres humanos e não humanos”.

Querido, Platão nos explica como a real tragédia da vida é quando os homens têm medo da luz. Mas você já reparou como a escuridão não suporta a mais mínima brecha de luz?

Obrigado por ser essa fresta. Saudações democráticas,

Jamil Chade

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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