Ceia Macabra

Michel Temer foi aconselhado por aliados a escolher um nome político para a vaga de Teori Zavascki no Supremo. Nome político seria o jurista que transita na política, segundo os ditos aliados, alguém que suporte as pressões próprias do meio político. Os aliados estão preocupados com as pressões sobre quem venha a herdar a relatoria da operação Lava Jato. Antes de ser tomado pela emoção, caro leitor, e debulhar-se em lágrimas cívicas, fique sabendo como e quem apresentou a proposta ao presidente da República.

O ‘como’ foi exatamente durante o ato de comer, um jantar. Interessante como os políticos resolvem os problemas deles e mandam para o povo até a conta da comida – não é mesmo, prefeito Rafael Greca? Jantar em palácio, regabofe de pandilha, no qual participaram, além de Michel Temer, Renan Calheiros, Romero Jucá, Eliseu Padilha e Weliington Moreira Franco, que dispensam apresentação. Esse povo reunido, ainda que na mais beata das missas ou em exaltado culto evangélico, representa conspiração.

A proposta apresentada a Temer, e seguramente divulgada pela assessoria presidencial para sentir o pulso da imprensa e da opinião pública, tem que ser lida assim: o político há de ser um nome ao gosto da turma, na festa de São João antecipada para janeiro em que ensaiaram quadrilha; as pressões a que esse nome político deve resistir não serão as dos políticos, pois os quatro cavaleiros de nosso apocalipse estarão no Senado para envolvê-lo, protegê-lo, patrocinar sua nomeação e, no Supremo, receber a retribuição devida.

Os convivas da ceia macabra são, direta ou indiretamente, em maior ou menor grau, às claras ou ainda às escuras, alvos da Lava Jato. O mais inocente entre eles não é suspeito nem por omissão, todos o são por comissão – o tamanho, perguntem ao procurador Dall’Agnol, que voltou às paradas anunciando a Lava Jato em escala nacional. No tempo da ditadura o jornalista Hélio Fernandes, crítico dos militares, deu manchete em seu jornal: “O ministro Fulano reuniu-se com o ministro Sicrano. E a polícia não apareceu”. A mesma coisa aconteceu na ceia macabra.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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