Quando o ódio domina o Planalto Central

O que dizer da turba enlouquecida de bandidos bolsonaristas que invadiu os prédios e destruiu o mobiliário dos palácios do Planalto, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Federal e saqueou-os, no último domingo, em Brasília? Patifes? Canalhas? Abjetos? Delinquentes? Facínoras? Terroristas? Tudo isso seria muito pouco, diante do que os salafrários causaram não apenas à democracia, às instituições da República, ao patrimônio público e ao conceito internacional do Brasil. Eles foram apenas o retrato do seu inspirador e incentivador – aquele ignóbil cagão, que fugiu antes de terminar o mandato para a terra de seu ídolo topete alaranjado, mas deixou aqui plantada a semente do ódio, da desordem, da calhordice e da indecência.

Disse-o bem o mestre Ze Beto, ainda no domingo:

“Essa cambada de imbecis vestidos de verde-amarelo se alimentou durante quatro anos do veneno da ignorância – este que despertou o que há de pior numa sociedade, esse verniz que os fazem crer serem patriotas, mas que revela serem eles nada mais do que uma rima, pois idiotas violentos que não sabem o que é democracia, o menos pior dos regimes. Uma semana depois da posse de um novo governo, eleito de forma legítima, eles, como vermes teleguiados, fizeram hoje o show de horror nunca antes visto – ato de provocação que pode resultar num grande cabresto para que ser restrinjam ao curral fétido que os abriga.”

A violência era esperada. Fora anunciada pela Abin (Agência Brasileira de Inteligência), mas as autoridades brasilienses, a partir do governador bolsonarista Ibaneis Rocha, fizeram-se de tolas. Foram omissas, lenientes e até parceiras da baderna, no primeiro momento. Nenhuma providência foi tomada para reforçar a segurança da Praça dos Três Poderes – ao contrário, há flagrantes de que a PM do Distrito Federal ajudou a entrada dos terroristas.

Mais importante, porém, do que enquadrar os baderneiros/destruidores/ saqueadores e recolhê-los ao Presídio da Papuda, junto dos marginais de alta periculosidade, é identificar os mandantes e os financiadores da baderna (tal qual policiais, políticos e eventuais militares e servidores que tenham colaborado).  Esses, covardes como o seu santo padroeiro, têm medo de se expor publicamente e agem na penumbra do anonimato, acionando hordas de zumbis irresponsáveis e desequilibrados. Todos deverão ser responsabilizados, autores e patrocinadores, inclusive pelo pagamento dos prejuízos causados ao patrimônio artístico e cultural do país. É o mínimo que se espera de uma nação dita civilizada.

Lula foi obrigado a declarar intervenção federal na segurança pública de Brasília e o ministro Alexandre de Moraes afastou Ibaneis do cargo por noventa dias.

E o omisso Procurador-Geral da República, o notório Augusto Aras? Deve ter passado a noite escondido debaixo da mesa de seu gabinete. Só se mexeu na segunda-feira por pressão dos demais procuradores e sub-procuradores. Está na hora de deixar o cargo.

Também na segunda-feira, Luiz Inácio convocou os governadores estaduais para uma conversa. A pequena ratazana que ora habita o Palácio Iguaçu compareceu? Não foi notada. Sua fidelidade ao capitão fujão e ao papai do SBT talvez o tenham impedido. Arcará com as consequências.

A baderna foi inédita na história do Brasil. Assim como o país ter o sido desgovernado por um psicopata. Que as lições tenham servido e desatinos desse tipo jamais voltem a acontecer.

Além do que e sobretudo, a atitude revelou-se um autêntico tiro no pé dos baderneiros. As instituições públicas nacionais fortaleceram-se e Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a unânime solidariedade, interna e externa, de entidades e partidos políticos, inclusive os da oposição, e de governantes dos principais países do mundo. 

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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