Ainda que tardiamente, viva a vovó!

No final de julho, comemorou-se o dia das avós. Não as agraciei, na oportunidade. Talvez por indesculpável esquecimento, talvez em homenagem ao saudoso Sérgio Porto, o imortal Stanislaw Ponte Preta, que achava a data “uma cretinice”.

Lalau afirmava que só no Brasil colava uma idiotice dessas: “Se já se comemora o Dia das Mães, por que o Dia das Avós?” E indagava, com alguma razão: “Acaso alguém consegue a proeza de ser avó sem ter sido mãe?” Sérgio Porto não entendeu que, apesar do apelo comercial, era apenas (como ainda é) mais uma maneira de reverenciar e dar carinho às velhinhas, que tanto merecem.

Mãe é a coisa mais importante desta vida, mas avó é uma coisa especial, única, quase celestial, que apenas aqueles que têm ou são conhecem. Por isso, na condição de ex-porta-voz dos avós sem coluna e agora já bisavô, transcrevo aqui um belo texto que me foi enviado, certa feita, pelo avô Renato Mazânek. É uma ode à arte de ser avó, uma composição que será perenizada pela beleza, capaz de comover até mesmo aqueles que ainda não receberam a suprema glória de se tornar avó (ou avô):

Perguntaram a uma menina de nove anos o que ela gostaria de ser quando crescesse. Ela respondeu: “Eu gostaria de ser avó!”.

Ao ser interrogada do porquê desse decisão, respondeu:

—  Porque as avós escutam, compreendem. E, além disso, a família se reúne todinha na casa delas.

E continuou: “Uma avó é uma mulher velhinha (*) que não tem filhos. Ela gosta dos filhos dos outros. Leva os netos para passear e conversa com eles.

“As avós não fazem nada e por isso podem ficar mais tempo com a gente. Como elas são velhinhas, não conseguem rolar pelo chão nem correr. Mas não faz mal. Elas nos levam ao shopping e nos deixam olhar tudo até cansar. Compram chocolate e sorvete. Na casa delas tem também um vidro com balas, outro com bolachas e outro cheio de suspiros.

“Elas contam histórias de nosso pai ou de nossa mãe quando eles eram pequenos, histórias de uns livros bem velhos com muitas fotografias. Passeiam conosco, mostrando as flores, ensinando seus nomes e fazem-nos sentir os seus perfumes.

“Avós nunca dizem ‘depressa!’, ‘já pra cama!’ ou ‘se você fizer isso, vai ficar de castigo!’. Quase todas elas usam óculos e eu já vi algumas tirando os dentes e as gengivas.

“Quando a gente faz uma pergunta, as avós não dizem ‘menina, não vê que eu estou ocupada?!’. Elas param o que estão fazendo, pensam e respondem de um jeito que a gente entende.

“As avós sabem um bocado de coisas. E elas não falam com a gente como se fôssemos bobos. Nem se referem a nós com exclamações tipo ‘que gracinha!’, como fazem as visitas.

“O colo das avós é quente e fofinho, bom de a gente sentar quando está triste.

“Todo mundo deveria ter uma avó, porque, com os avôs, são os únicos adultos que têm tempo para a gente”.

Eis aí porque as avós são as mais doces criaturas deste mundo. Duplamente mães – as bisavós são triplamente –, suprem com um sorriso, um olhar carinhoso e um gesto de puro afeto as lacunas deixadas pelos atarefados país. Merecem, pois, não apenas um dia especial, mas todos os dias da nossa existência.

E agora, se me dão licença, vou dar um beijo na bisavozinha que tenho aqui em casa.  (*) Hoje, nem tanto. Minha nora Melissa, por exemplo, tornou-se avó logo depois dos 40 anos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Célio Heitor Guimarães e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.