Como está o tempo?

—Que tempo, né?
—Pois é, ainda ontem não estava assim. Cruzei com ele. Estava firme, sem nenhuma aparência de chuva.
—Não, não é o mesmo que eu vi. Hi, estava enferruscado, cara de poucos amigos, pronto pra desabar.
—Minha mãe disse que isso é coisa de hoje. O tempo pra ela nunca foi assim. Era ameno, respeitava as estações. No inverno fazia frio, no verão, só calor.
—Pro meu pai, o tempo corria sempre bem. Não estava nem aí. Não estressava. Com chuva, com sol, com guerra, sem guerra. Ele estava sempre na boa.
—Minha avó também sabia levar a vida. Não tinha tempo ruim pra ela. Mas, hoje, mudou. Ela passa ao tempo todo se queixando desse tempo horrível de hoje.
—É, todo mundo sem tempo pra nada. Na correria. Parece que todo mundo vai tirar o pai da forca.
—É, os tempos bons… já se foram.
—Não é bem assim. Agora mesmo está fazendo tempo bom…
—Mas está frio, virando pra chuva.
—Em dois tempos, muda. Temos que ser otimistas.
—Faz tempo que nem sei o que é otimismo. O tempo todo é só preocupação, notícias ruins, falta de perspectivas…
—Dê tempo ao tempo…
—Tentei. O tempo que passei com meus filhos na praia foi ótimo. Não esquentei com nada. Calor, sol. O tempo todo com eles, curtindo.
—Não falei que ia chover! Essa garoa chata. Vai durar um tempão.
—Bom tempo pra pegar uma gripe! E faz tempo que não vê tua família?
—Dois anos. Ninguém tem tempo pra se encontrar. Um pra lá, outro pra cá. E assim vai.
—Na minha, só minha tia não tá nem aí pro tempo. Fez 95 anos. Inteiraça. Não reclama do tempo. Só dos pés frios, mesmo no verão.
—É, cada um com seu tempo. Cinco minutos de chuva e já tem gente reclamando. Esqueci o guarda-chuvas! Vou perder a hora do dentista.
—O tempo, mesmo, não tá nem aí. Chove, passa cinco anos, faz sol, deixa muita gente esperando. O tempo vai em frente.
—E nós aqui, parados. Conversando. Matando tempo.
—É pura perda de tempo. Mas a gente não consegue viver sem falar do tempo. Falar bem ou falar mal.
—Todo mundo que se encontra, fala do tempo. O tempo dá álibi pra gente falar com desconhecidos. Que tempinho, heim? Pois é, só chove! Mas na TV diz que vai mudar. Ah, a TV nunca acerta. Bom,  té logo!
—O tempo deve pensar: falam bem ou mal, mas não vivem sem mim.
—Vou indo, que minha namorada está me esperando. Tenho pouco tempo pra pegar o ônibus.
—Até mais ver. Se der tempo, me ligue. Se não chover. Tchau!

*Rui Werneck de Capistrano escreve para não enlouquecer

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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