Criciúmas

Onde tem dinheiro tem assalto. Vale pra bancos, pro comércio, pro bolso do povo. Como não dá pra não ter dinheiro nesses lugares, a única solução seria tentar regulamentar melhor o crime. Por exemplo, agências preferenciais para roubos.

Os bancos privados, esse conglomerado de exploradores da grana da população, se uniriam para instalar agências exclusivas de atendimento a ladrões. Uma em cada cidade, como um caixa único para os amigos do alheio. Os gatunos teriam um calendário de assaltos programados, assim dois bandos não se amontoariam na mesma hora saqueando a tal agência.

Pra nunca faltar money para as gangues, os cofres seriam abastecidos em rodízio pelos tais banco afiliados à agência, o que garantiria a satisfação plena dos assaltantes.

Com tal estrutura e fartura financeira, os bandidos deixariam as demais agências bancárias em paz. Essa imensa facilidade de atendimento à bandidagem também diminuiria a onda de saques violentos, com armamento pesado e dinamite.

Os traficantes de armas de uso exclusivo das forças armadas e os fabricantes de explosivos teriam algum prejuízo, claro, mas não dá para contentar a todos. Em vez de armas, cartões roubativos, com caixas eletrônicos Furte Aqui 24h. E se houver consenso entre os maiores bancos do país, eles podem até bancar um marketing coletivo. Já os bancos estatais, estes seriam poupados de tantos assaltos sensacionais, beneficiados com a preferência dos assaltantes pelas instituições privadas.

Sem falar na proteção do dinheiro estatal reservado a desvios de verbas e aos fundos para mamatas e maracutaias. Este programa facilitador da roubalheira pode ter desdobramentos incríveis: com essa folga dos autores intelectuais de assaltos espetaculares, eles poderiam virar roteiristas de Hollywood!

Quanto aos reféns, poderiam ser terceirizados: em vez de apanhar cidadãos inocentes e vulneráveis, prováveis vítimas em situações extremamente perigosas, nessa nova modalidade de assaltos regulamentados os reféns poderiam ser voluntários. Haveria um cadastro nacional para refém, com aproveitamento dos 14 milhões de desempregados do país. Com mão de obra tão barata, receberiam vale-refeição, vale-transporte e um cachê, tudo pago por S. A., a Sociedade Assaltante.

É uma sugestão modesta, nem me custou criar, e nada quero em troca. Apenas para evitar que haja uma Criciúma em cada região deste tão desprotegido e desgovernado Brasil. De nada.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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