De Renan a Deltan

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© Myskiciewicz

O preço

Dizia a velha UDN que “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. A Lava Jato nos ensinou que o preço da moralidade pública é a vigilância e acima de tudo a eterna implicância. Segunda à noite, no tapetão, tentou-se votar na câmara dos deputados o projeto de lei que anistiava o caixa dois dos políticos.

O relator disse que não sabia de nada, o projeto veio das catacumbas da casa, o presidente Rodrigo Maia deu a desculpa esfarrapada de que também desconhecia. Quem salvou a pátria? Um deputado do PT e um do PSol. Do PT, sim, o maior beneficiário do caixa dois. Ainda há esperança para o PT.

Bendita intolerância

O secretário Moreira Franco, responsável pelas parcerias do governo Temer, declara que a “sociedade brasileira está muito intolerante”. Fala em causa própria. A sociedade brasileira, tolerante ao extremo, às vezes, como agora, atinge o limite da tolerância com os políticos.

Ele sabe, está na família: o avô da ex-mulher dele, Getúlio Vargas, caiu vencido pela corrupção de seu governo, irmão, filho e chefe da segurança envolvidos. Vargas teve a dignidade que faltou a corruptos que depois ocuparam a presidência, a do suicídio para escapar da vergonha.

Moreira Franco condena a intolerância onde lhe convém. Essa que se levanta agora, da propina da Andrade Gutierrez à chapa Dilma/Temer, R$ 1 mi em 2014 para o contrato da usina Belo Monte, revelada no TSE; e a de Eduardo Cunha contra Moreira Franco, que, segundo o ex-presidente da câmara federal, não seria propriamente um varão de Plutarco.

Pensata

Tem político que é que nem ladrão – quantos, quais, respondam vocês: quando sai da cadeia a primeira coisa que faz é violar a lei de novo. Pode até pedir perdão aos eleitores, como está entrando em moda. Não adianta, a índole criminosa é mais forte.

Vozes demais

O governo Temer procura seu porta-voz, o cara da interlocução com a imprensa, que administre a língua dos ministros faladores, ansiosos por holofotes. Um presidente forte taparia a boca de todos, bastava bater o pau na mesa. Aí mora o problema de Michel Temer: a boca dos ministros e o pau dele. Com Dilma não tinha disso.

Mil vezes Deltan

Renan Calheiros, presidente do Senado, reclama que os promotores da Lava Jato estão “muito exibicionistas”. Realmente estão. Mas a última pessoa que pode reclamar deles é Renan Calheiros. Entre Renan e Deltan mil vezes Deltan.

Primeiro, porque ele não quer ser exposto nas investigações, muitas delas contra ele mesmo, dormitando no Supremo. Segundo, o exibicionismo, por constrangedor que seja, tira o véu do sigilo e segredo da roubalheira do dinheiro público.

Desse modo, o exibicionismo faz bem à nação. Se não fizer bem, seguramente faz menor mal que a roubalheira, um câncer histórico, parido e cevado pela república. O exibicionismo da Lava Jato não tem nem cinco anos.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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