Há que se limpar o Legislativo

Tenho feito constantes e ferozes críticas ao maledetto que ora ocupa o Palácio do Planalto, aquele cujo nome evito dizer ou escrever por causar-me asco. No entanto, ele não é o único culpado do estado em que se encontra o Brasil. É o principal, certamente, por haver, através de uma política nefasta e criminosa, aviltado a saúde, a ciência, a educação, a cultura, a economia, a civilidade e, especialmente, a democracia brasileiras. Mas há outros bandidos nessa trama, que se abrigam ao lado do Planalto, no Congresso Nacional. Nunca houve um parlamento tão ruim – com raríssimas exceções – como o atual. É ali, no Centrão e proximidades, que se encontra o restante da nata da patifaria, da má conduta, da chantagem e do usufruto de vantagens imorais, através de uma legislatura delinquente e perniciosa ao interesse nacional.

Mais do que o capitão defenestrado do Exército, quem hoje conduz o país é aquele grupelho denominado Centrão, capitaneado por Arthur Lira et caterva. O próprio capitão é refém dele. Só faz o que ele quer. E vice-versa. Afinal, há mais de 120 pedidos de impeachment guardados na gaveta do presidente da Câmara dos Deputados.

Por sua vez, o eleitor, que colocou essa gente no poder, tem a sua parcela de culpa. Não por acaso o Datafolha constatou o absoluto desinteresse dos brasileiros pelas eleições para a Câmara e para o Senado – supostamente, as Casas do Povo, que deveriam acolher as necessidades da sociedade. O instituto aponta a enorme apatia dos eleitores. Reafirma também aquilo que já se sabia: “64% dos cidadãos não lembram o nome do candidato a deputado federal em quem votaram no pleito passado, e 65% esqueceram a escolha para o Senado”.

E aí o Datafolha teoriza sobre os obstáculos enfrentados pelos eleitores. A primeira grande dificuldade é identificar quem melhor o representa. Além do que, a propaganda eleitoral no rádio e na televisão é ineficiente para as eleições proporcionais, cabendo, em média, não mais que alguns segundos para cada candidato.

No entanto, é também fato que o eleitorado não mostra vontade de informar-se. De um modo geral, mantém-se alheio aos acontecimentos do país e só lembra da importância do seu voto às vésperas das eleições. Aí, faz o que é mais desolador: o primeiro nome que lhe vem à cabeça vai para a urna. E o resultado é o que temos tido.

A Folha de S. Paulo, grupo ao qual pertence o Datafolha, incluiu entre os culpados o próprio Tribunal Superior Eleitoral, que restringiu “a divulgação de informações sobre o patrimônio declarado pelos candidatos, privando o eleitor de saber, por exemplo, de quais empresas eles são sócios”.

A verdade é que o eleitor desinteressa-se pela vida pregressa dos candidatos. Se eles já tiverem assento na Câmara ou no Senado, o eleitor deveria procurar saber o que o postulante à reeleição produziu ou ajudou a produzir para o bem do país. Esse tipo de informação existe e é de fácil acesso. Por exemplo: este ano, o Congresso Nacional votou e aprovou o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, o famoso Fundo Eleitoral, de 4,96 bilhões de reais, um dinheiro público, que está sendo dividido entre os partidos para ser usado pelos candidatos em 2022.

Enquanto isso, só para lembrar: um em cada três brasileiros, passa fome e a miséria chega hoje perto dos 10 milhões de almas desamparadas. Com estas informações, prezado eleitor, confira quem votou a favor do Fundão.

Eu, por exemplo, não terei esse problema. Aqui em casa, nas últimas eleições, votamos no Gustavo Fruet, que foi contra o Fundão. Este ano, vamos de Cláudio Henrique de Castro – que tem assinado oportunos e proveitosos textos no Zé Beto e no Solda Cáustico –, um jovem idealista, decente e competente, que certamente iluminará, com sua postura e talento, a Câmara dos Deputados. E a sugestão fica, mais uma vez, para quem quer bem o Brasil e sonha vê-lo sair do buraco. Com gente como Cláudio Henrique haveremos de começar a limpeza do parlamento.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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