Democracia e liberdade, sempre!

Eu havia me comprometido a não mais falar aqui, por iniciativa própria, do capitão-presidente. Vou cumprir o prometido, embora às vezes seja obrigado a citar o dito cujo em referência a textos de terceiros, e esteja informado de que o mandato dele está sendo, atualmente, monitorado de perto pelos militares no governo.

Preocupada com o insano movimento de extremistas imbecis, que se dizem identificados com o atual ocupante do Palácio do Planalto e tem-se manifestado, de forma criminosa, inconstitucional e antidemocrática, contra o STF e o Poder Legislativo, a imprensa – com destaque para os jornais impressos ainda existentes – tem resistido em favor da democracia. O mesmo tem acontecido com alguns blogs on-line, como este, do consciente Zé Beto, o Solda Cáustico, o Contraponto e o Insulto Diário, entre outros.

A Folha de S. Paulo, por exemplo, lançou-se em ação “para acordar os saudosistas de um mundo de fantasia, em que não haveria corrupção nem escândalos, a segurança seria grande, e a economia, milagrosa”.

Em editorial de primeira página, no domingo, revelou aos idiotas que pedem a volta da ditadura militar, sem tê-la conhecido, que naquele tempo, “na vida real, o arbítrio sufocava as instituições, o pensamento livre e o direito de expressá-lo”. E destacou: “A tortura era política de Estado, os adversários desapareciam, os desmandos ficavam ocultos pela mordaça nos outros Poderes e o crescimento econômico da década de 1970 acabou em inflação descontrolada e dívida”.

Realçou que a imprensa, que posteriormente seria calada pela censura, apoiou o regime num primeiro momento, incluindo a própria Folha. Reconheceu o erro e a perda da capacidade de reação antes mesmo de percebê-lo. Até conseguir recompor-se, nos anos 80, quando foi uma das líderes destacadas do movimento Diretas Já.

A Folha não pretende repetir o erro. Por isso, com a autoridade de o jornal impresso de maior tiragem e maior circulação do país, incensa a liberdade e muda o tradicional slogan utilizado desde 1961, de “um jornal a serviço do Brasil”, para “um jornal a serviço da democracia”.

Segundo Churchill, “a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum melhor que ela”. Rubem Alves a defendia com paixão e fartos argumentos, considerando-a uma obra de arte coletiva. Afirmava que ela começa com as ideias do povo. E encontrava exatamente aí a delicadeza e a fragilidade da democracia: “para que ela se realize, é preciso que o povo saiba pensar”. Argumentava: “Se o povo não souber pensar, votos e eleições não a produzirão. A presença dos ratos na vida pública brasileira é evidência de que o nosso povo não sabe pensar, não sabe identificar os ratos…”

Francis Bacon, por sua vez, centenas de anos antes, já assegurava – sem conhecer os estúpidos que, neste ano da graça de 2020, saem às ruas ou perfilam-se defronte o Palácio do Planalto ou diante do Quartel General em Brasília, para implorar pela volta dos militares ao poder – que “o perigo da democracia é o direito que tem os oportunistas de lançar ao fogo a lenha de ideias importunas”.

Quer dizer, os energúmenos pregam o fim daquilo que os têm possibilitado fazer as suas pregações.

Choramos ou rimos, companheiros?!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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