Detrator número 41

Ao elaborar o “Mapa de Influenciadores”, uma lista esdrúxula como essa, o governo mostra que não precisa de uma relação de detratores. Ele sabe fazer isso muito bem sozinho

Entrei numa lista de “detratores” do governo Bolsonaro. Várias pessoas com lágrimas nos olhos me mandam os parabéns, dizendo que eu devia me sentir orgulhoso. A verdade é que o orgulho que sinto por isso não é maior do que a vergonha que sinto pela existência de uma lista como essa. Primeiro, porque o Ministério da Economia pagou quase 3 milhões de reais por uma relação de nomes elaborada em uma planilha de Excel vagabunda, com um texto ordinário que parece saído de um caderno escolar do Eduardo Bolsonaro. E segundo, porque uma lista aparentemente inofensiva como essa pode ser usada para perseguições políticas e retaliações econômicas – ou pior, para me levar a um passeio por algum porão imundo para testar o sistema elétrico do lugar.

Cada vez que ouço o Guedes falar, imagino o Lyle Lanley tentando nos vender um monotrilho. Em uma entrevista para a Globo News, acho que antes de tomar posse como ministro da Economia, disse que arrecadaria 1 trilhão de reais com a venda de imóveis do governo, que faria surgir mais 200 trilhões com a privatização de não sei o quê. Clássica conta de padeiro. Padeiro que vende o pão que o diabo amassou. Se o Brasil fosse uma start up e esse o plano de negócios fosse apresentado, não conseguiria financiamento nem do agiota da esquina. No Brasil, nosso buraco moral é sempre mais embaixo.

No relatório que leva o nome de “Mapa de Influenciadores” eles recomendam o “envio de matérias e projetos do ME e divulgação de boas práticas”. Divulgação de boas práticas? Tipo, dar bom dia para o porteiro, não enxugar o suor das axilas na toalha de rosto e jamais levar radinho à pilha para ouvir futebol durante a missa? Acho que uma boa prática seria o ministro admitir que não é bom com números e fazer vestibular para outra coisa. Agronomia, já que ele gosta de… tratores.

Bem, ao elaborar uma lista esdrúxula como essa, o governo mostra que não precisa de uma relação de detratores. Ele sabe fazer isso muito bem sozinho, e com louvores.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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