Deus acima de tudo, meus filhos acima de todos

Bolsonaro mostra dia após dia quais são suas prioridades

Começamos a semana com o boquirroto Abraham Weintraub, ministro da Educação nas horas vagas, por um fio de ser defenestrado do governo. Não pela incompetência, mas porque voltou a chamar os ministros do STF de vagabundos e piorou seu status de “problema”.

Bolsonaro deseja que sua saída seja “honrosa”. Prioridades. Em bom português, significa providenciar alguma mamata no próprio governo pelos serviços prestados: passar o dia nas redes sociais xingando adversários políticos, enquanto a educação definha.

Nesta terça (16), o presidente correu para o Twitter, com uma surpreendente preocupação com o Estado democrático de Direito: “…não posso assistir calado enquanto direitos são violados e ideias são perseguidas. Por isso, tomarei todas as medidas legais possíveis para proteger a Constituição e a liberdade dos brasileiros”.

“Os brasileiros”, como sabemos, são apenas os seus apoiadores. As outras dezenas de milhões de cidadãos são apenas comunistas e terroristas. A urgência no tuíte foi para defender os encrencados no inquérito que apura a realização de atos antidemocráticos. Prioridades. Agora sabemos quem são as pessoas que levaram o presidente a bater de frente com Sergio Moro e exigir a troca na direção da Polícia federal.

Não que ele esteja muito preocupado com essa tropa de choque que não tem pudores em sujar as mãos para defender o bolsonarismo. Se tiver que sacrificar meia dúzia para salvar os seus, Bolsonaro nem pisca. As olheiras do presidente levam o seu sobrenome.

Por isso, o repentino apreço à “liberdade dos brasileiros” também parece ligado ao desdobramento das investigações sobre Flávio, no caso das rachadinhas, e ao inquérito que identificou Carlos como um articulador no esquema criminoso de fake news. Medo da PF na porta da casa dos meninos, né, presidente?! Deus acima de tudo, meus filhos acima de todos. Prioridades.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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