Diário da crise CCLXXIII

O Ministro Pazuello anunciou 24,5 milhões de doses de vacina em janeiro. Ele usou o verbo entregar, o que me parece mais correto.

Muito possivelmente os insumos da vacina Oxford-Astrazeneca chegam em janeiro. O Ministro Pazuello deve estar contando com a capacidade da Fundação Oswaldo Cruz processar 19 milhões de doses. Acredito que é uma hipótese razoável, dada à competência da institutição.

No entanto, se o Ministro Pazuello disesse que iria aplicar 24,5 milhões de doses a partir de janeiro, não creio que poderia contar com o produto da Oxford-Astrazeneca porque os estudos estão atrasados e muito possivelmente o tempo será curto.

Ironicamente, a única vacina com que o governo pode contar é a Coronavac, se quiser começar mesmo em janeiro. Assim mesmo, terá de esperar a chegada dos dados finais da fase 3 e avaliar a eficácia, que até o momento desconhecemos exatamente.

Enquanto quebramos a cabeça para ter vacinas, o Supremo decide se devem ou não ser obrigatórias. Creio que a decisão será mais ou menos como a do voto obrigatório. A recusa de se vacinar não implica em perda de liberdade ou qualquer tipo de coação mas apenas acesso reduzido a alguns serviços ou uma pequena multa.

Essa história de ser obrigatória ou não já está decidida na lei brasileira sobre outras vacinas. Mas como no caso de voto obrigatório, tudo depende muito de campanhas. Nos Estados Unidos, o voto é opcional. Para se vencer uma eleição é preciso principalmente convencer as pessoas a votarem. Foi assim com Obama e foi assim na Georgia, agora na vitória de Biden.

Hoje, tive uma informação de que Israel vai oferecer um passaporte verde para todos os que se vacinaram. Possivelmente, trará algumas facilidades, como na viagens aéreas.Antes precisamos resolver o problema das vacinas. Antes mesmo das vacinas, precisamos resolver a assistência aos que esperam leitos no hospital.

Por falta de uma UTI, uma atriz de 47 anos morreu na UPA da Tijuca, na zona norte do Rio. Ela se chama Christina Rodrigues e participou do programa humorístico Zorra Total.

Diabética, esperava sentada um lugar na UTI e os amigos advertiram que ela não resistiria.

Muitas pessoas também estão morrendo silenciosamente em casa. O episódio que envolveu Christina Rodrigues é bem claro, ela chegou na porta da assistência médica mas não consegui dar o pequeno passo que salvaria sua vida. É de doer.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Fernando Gabeira - Blog e marcada com a tag , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.