Discussão sobre o destino da capivara prova que Brasil voltou ao normal

Passamos quatro anos desperdiçando nossa bile com brigas

Já estamos no quinto mês de 2023. Os brasileiros comemoram mais de 120 dias livre da atmosfera de medo e ódio que tomou o país no governo Bolsonaro. Parece pouco, mas foi o suficiente para devolver às redes sociais e almoços de família pautas de discussões totalmente aleatórias.

Após quatro anos desperdiçando sua bile com brigas como “Covid é grave ou uma gripezinha?”, “centenas de milhares de pessoas mortas é normal ou genocídio?”, “E o PT?”, o cidadão finalmente pode voltar a discutir temas como “é bolacha ou biscoito?”, “é bloco ou bloquinho?” e “coentro: tempero milagroso ou gosto de sabão?”.

Mesmo amenas, as polêmicas não facilitam a vida do cidadão, que sofre para acompanhar as brigas que brotam mais rápido do que caruncho em saco de arroz. Para ajudar o leitor a se atualizar, a coluna levantou as mais recentes “tretas” de 2023.

Nas últimas semanas, uma capivara adotada por um influencer amazonense dividiu os brasileiros. O animal virou celebridade nas redes sociais, mas o Ibama “puxou a capivara”, com o perdão do trocadilho, e autuou o jovem por exploração de animal silvestre. O caso gerou brigas entre os que estão do lado do instituto e quem acha tranquilo dar banho de espuma e colocar camisola em um roedor selvagem.

O ChatGPT também polarizou o país, com pessoas questionando se o assistente virtual seria uma ferramenta de trabalho ou uma ameaça aos empregos, já que é capaz de escrever livros, programar computadores e realizar cirurgias. Há quem acredite que o “robô” possa aniquilar a humanidade, após descobrir que o ser humano não vale nada.

Outra briga que acabou com amizades é sobre o uso da Air Fryer. De um lado estão os que acreditam ser só um forno pequeno que resseca alimentos. Do outro estão os que amam o eletrodoméstico como se fosse um filho.

A discussão “pai de pet é pai?” voltou a todo vapor, com as variantes “pai de planta”, “pai de capivara” e “pai de Air Fryer”. Além dos conflitos “Pedro Pascal, gato ou superestimado?”, “Base da Virgínia sai na água?”, “Deixar filhos com babá: normal ou mãe de merda”, “não ter filhos: sensatez ou falta de amor?”, “copiar é plágio ou trend?”, “‘Ficante Premium’ é namorado?”, em um claro sinal de que o Brasil volta a respirar sem aparelhos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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