Octavio Malta: jornalismo de combate – parte 1

Para comemorar os 120 anos do nascimento do jornalista Octavio Malta, seu filho, Dácio Malta (repórter de Última Hora, editor assistente de Veja, diretor do Globo em Brasília, diretor de redação do O Dia e do Jornal do Brasil, dramaturgo, diretor de teatro e cineasta) organizou o livro que leva o nome que está no título do presente artigo e que foi publicado no final do ano passado.

Octavio Malta, conta Dácio, é pernambucano de Nossa Senhora do Ó, na época distrito de Nazaré – e agora Tupaoca, distrito de Aliança –, e nasceu em 13 de fevereiro de 1902. Aos 17 anos, foi trabalhar como revisor, depois como redator, no Diário de Pernambuco. Mas aos 23 anos foi obrigado a sair do Recife, junto com Osório Borba. Os dois criticavam o Governador Sérgio Loreto, que pedia insistentemente suas cabeças, o que acabou impedindo-os de continuar na imprensa”.

Ainda escreve Dácio: “No Rio, Malta teve alguns meses de ‘boca incerta’ –, época em que trabalhava em A Folha, vespertino decadente de Medeiros e Albuquerque, que funcionava num prédio em frente à antiga sede do Jornal do Brasil, na Avenida Rio Branco. Em 1926, foi redator da Tribuna, o ´vermelhinho´ que servia de acústica para a oposição revoltada”.

Sobre as atividades políticas de Octavio, tão intensas quanto as jornalísticas, Dácio escreve: “Secretário-geral do Socorro Vermelho, organização de solidariedade do Partido Comunista, em 1935 foi preso na Casa de Detenção, Rio. Lá, ele recebia os jornais diários e escrevia um resumo do noticiário que, nas galerias da Frei Caneca, era ouvido pelos demais presidiários através da voz possante do médico Campos da Paz, que lia, junto às grades, os artigos redigidos pelo amigo de cela. Marta, como chamavam os mais íntimos – ele tinha dificuldade em pronunciar os eles –, era o Matoso na época, mas meu nome legá é Octavio Malta, brincavam os amigos”.

O também jornalista Evaldo Costa, na apresentação do livro, relembra que “tudo o que (Octavio Malta) produziu traz a marca e o tom de alguém com uma visão original e enorme motivação para transformar a realidade”. E completa: “Que se recusa a ser isento”.

Seu filho Dácio relembra: “Nos anos 60, Nestor de Holanda publicou uma relação dos 10 maiores jornalistas do País, a seu juízo naturalmente. Entre eles estava Octavio Malta, que escrevia, em Última Hora, a coluna diária Jornais e Problemas. Cada um dos 10 mais tinha a sua justificativa. A de Malta era a seguinte: todo jornalista quando se senta diante da máquina de escrever pede aos céus para ser o mais claro e simples possível. E dizia Holanda: “E Malta é o único a quem Deus atende”.

Aqui cabe uma observação de que não é de Dácio, mas minha: Alberto Dines, no depoimento que deu ao CPDOC da FGV (Eles mudaram a imprensa), se vangloria de ter sido o primeiro jornalista a escrever uma coluna sobre jornais e revistas no Brasil, a partir de 1974, quando assumiu a sucursal da Folha de São Paulo no Rio de Janeiro, levado por Claudio Abramo e com a concordância de Otávio Frias. A memória de Dines foi seletiva e ele faltou com a verdade. Como editor-chefe de Última Hora durante muitos anos, não poderia ignorar que foi Octavio Malta (que era diretor do jornal) o primeiro a escrever sobre os jornais em coluna que manteve durante mais de 20 anos em UH.

Voltemos a Octavio, mais uma vez nas palavras de Dácio: “No final dos anos 30, quando Samuel Wainer o conheceu, ele já era ´guru da imprensa brasileira´. Dorival Caymmi dizia que Malta, pessoa do meu coração, sempre se disse à boca pequena, era o melhor secretário de jornal que existia. Um riso adorável, uma calma e, para o trabalho que fazia, um milagreiro”.

E continua Dácio: “Augusto Nunes foi quem escreveu, a pedido de Pink Wainer, as memórias de Samuel (Minha razão de viver). Quando ele chegou ao final das 57 fitas que Samuel deixou gravadas, Nunes confidenciou-me: O depoimento é impressionante. Samuel detona todo mundo. Inclusive ele próprio. O único que fica bem na história, e durante toda a vida, é Octavio Malta”.

Dácio ainda recorda: “Malta sempre ficou bem. Pode-se pegar qualquer livro de memórias de intelectuais de sua época. Não importa de quem sejam as lembranças. De Darcy Ribeiro a Nélson Rodrigues, ou mesmo historiadores estrangeiros como John W. F. Dulles. E isso desde o tempo de Graciliano Ramos, que o incluiu em Memórias do Cárcere.

Malta, que já tinha enorme prestígio como jornalista, se encontrou com a História quando conheceu Samuel Wainer, de quem seria, pelo resto da vida, o “braço esquerdo”.

Aqui é importante transcrever as lembranças de Dácio sobre as opiniões que o sempre corrosivo Paulo Francis tinha do seu pai: “Paulo Francis escreveu em 1984 que Malta foi um polemista de esquerda e uma doce criatura. Pouca gente sabe que ele salvou a vida de Samuel, quando teve tuberculose e desistiu da vida. Malta o internou e cuidou dele”.

E continua: “Samuel achava que o Partido tirava a independência do articulista, lembra Francis. Não concordo. Malta foi exemplo disso. Para grande irritação minha, ele começou a elogiar Jânio Quadros em 1960. Nós todos éramos pró-Lott. Toda a esquerda. Mas Malta se encantou com alguns discursos de Jânio no Nordeste. Era um homem aberto às ideias”.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Paulo Roberto Ferreira Motta e marcada com a tag , , . Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.