Ditadura argentina

O Dia em que Eu não Nasci. O Dia em que Não Nasci começa com uma impressão subliminar. A moça alemã, em escala pelo aeroporto de Buenos Aires, ouve uma canção de ninar entoada por uma jovem mãe. Algo, que não sabe definir, é despertado em sua memória afetiva. E esse indefinível dá início a uma busca, envolvendo mais uma história da época da ditadura militar na Argentina. O filme de Florian Micoud Cossen busca evitar os facilitários desse quase gênero. Maria (Jessica Schwarz) não fala uma palavra de espanhol e nem aprenderá milagrosamente o idioma para salvar a cara do roteirista. Com essa dificuldade de comunicação, enfrentará os problemas da busca que se propõe em Buenos Aires. Claro, há o expediente do policial charmoso que fala perfeitamente o alemão, mas mesmo esse expediente não compromete a credibilidade da história.

De qualquer forma, será o fato de Maria permanecer no escuro a maior parte do tempo que emprestará ao filme o encanto que tem. Afinal, estamos falando de um tempo de brumas, em que pessoas eram assassinadas e seus filhos adotados por colaboradores do regime sem que ninguém ficasse chocado. Era a ordem natural das coisas.

De modo que a trajetória de Maria será desfazer anos depois essa “ordem natural” e reencontrar-se com um passado que nem ela própria sabia existir. O filme, embora dirigido por um alemão nascido em Tel-Aviv, reflete essa necessidade argentina de saber o passado – conhecê-lo, custe o que custar. Mesmo que o preço seja perder-se na cidade, no sentido literal e no metafórico, como insinua uma das tantas cenas marcantes desse belo filme.

 Luiz Zanin

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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