Dízimo será atrelado ao preço gasolina

Comissão de pastores apresenta a proposta

Sempre fiel aos salmos bolsonaristas, uma comissão de pastores evangélicos ligados ao governo apresentou uma proposta para salvar o Brasil do comunismo e garantir as liberdades individuais.

“É preciso modernizar o cálculo do dízimo. Não podemos mais ficar com esses 10% fixos. Temos um presidente cristão que fez o que prometeu —todo mundo está empobrecendo no Brasil, menos os acionistas da Petrobras, os planos de saúde, os garimpeiros e os artistas que recebem cachês milionários das prefeituras. Tá indo tudo bem, só precisamos repartir esse pão com todos os setores que apoiam Jair Bolsonaro”, explicou o pastor Cifras Malalala, líder da comissão.

Num discurso bastante enfático, o pastor Cifras atingiu um si bemol quando defendeu a paridade do dízimo com a gasolina. “Aumentou o barril de petróleo, aumenta o dízimo”, berrou. Em seguida, apresentou a percentagem atual da contribuição mensal dos fiéis.

“Hoje a Igreja moderna abraça o dízimo flutuante. Atualmente, está em 129% do salário. Raspem suas economias porque o momento é decisivo. Aceitamos Pix, barras de ouro e vale-refeição”, explicou.

Com um tom moderado, Cifras passou a palavra para o pastor Macro Feliconômico. “Vejam que o aumento do dízimo é um fenômeno internacional. Por causa da política do ‘fique em casa, a sua alma você entrega depois’, muita gente deixou de morrer e, portanto, hoje o mundo tem mais gente desempregada em vida. Todas as igrejas terão que aumentar a sua arrecadação”, explicou.

A bispa Soma Frequentez encerrou a apresentação. “Hoje temos mais de 33 milhões de pessoas passando fome, uma inflação que corroeu o poder de compra das famílias, planos de saúde que não são mais obrigados a cobrir tratamentos que estão fora do rol da ANS. Hoje, portanto, os 10% da renda familiar média brasileira valem muito menos do que antes. É preciso modernizar essa contabilidade para não liquidarmos a única política que pode salvar a população durante o governo Bolsonaro –a reza braba”, explicou.

Terminada a apresentação, Malalala, Feliconômico e Frequentez iniciaram uma turnê que levará as novas propostas para todas as cidades bolsonaristas do Brasil. “Já acertamos os cachês com as prefeituras com o intuito de prover uma palavra de fé para quem realmente precisa: nós mesmos”, revelaram, em uníssono.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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