Dores do parto à direita

Racha pode ser mortal ou apenas consequência do renascimento

Depois de anos atuando como figurante engajada e influente, porém algo envergonhada, a direita brasileira vem de recente entrada na cena principal da política. Toda catita, sem receio de dizer o seu nome.

Dentre as novidades com as quais se depara na condição de coprotagonista, está a divisão interna. Rusgas públicas de tendências até então eram características da esquerda, mas não só. O MDB, nossa legenda mais longeva, sobrevive há quase 50 anos sendo uma federação de grupos quase sempre divergentes.

A tensão é do jogo e tende a explodir como espetáculo quanto mais relevantes se tornam os jogadores. Não fossem Jair Bolsonaro ex-presidente da República e Tarcísio de Freitas governador de São Paulo ninguém daria atenção à treta naquela reunião do PL sobre a votação da Reforma Tributária.

Não é exagero, portanto, supor que a direita sofra agora das dores do parto do renascimento. É uma hipótese, pois só o andar da carruagem dirá se o racha que se vê entre os adeptos da aproximação com o atual governo e os defensores da oposição radical será mortal ou transitório.

No MDB, discordância é modo de convivência. No PT, já rendeu expulsões (na eleição de Tancredo Neves, nos anos 1980, e na reforma da Previdência, em 2003), mas hoje tensionar internamente faz parte do glamour partidário. Os emedebistas se entendem no desentendimento, e os petistas obedecem à liderança do presidente Lula.

Ambos, cada qual ao seu modo, preservam identidades. É a tarefa diante da qual estão PL, PP e Republicanos. Ou assumem uma marca, ainda que sob a égide da moderação, de maneira a incrementar a identificação com o eleitorado desse campo, ou se abrigam na velha e quentinha caverna do fisiologismo.

Sendo esta última a escolha, a direita abandonará o plano de se consolidar no universo dos protagonistas para retornar ao lugar de coadjuvante. Engajado e influente, porém outra vez envergonhado.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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