Durkheim de alcova

Ainda ontem Lula foi aqui comparado a Joe Biden, na senilidade, na empulhação e na hipocrisia desabrida e arrogante. O que não chega a ser demérito porque é do instrumental da política, que revela pelo contraponto raro da coerência os homens públicos íntegros e coerentes. A multiplicidade e a rapidez (quase digo instantaneidade) das demandas que cercam os políticos fazem raros e preciosos os que não se movimentam como birutas de aeroporto para responder favoráveis à pressões contraditórias e inconsistentes.

Lula a cada dia acentua seu modelo Vicente Matheus, histórico e quase vitalício presidente do Corinthians – nada por acaso time de coração do presidente. Matheus era o folclórico dos rompantes do semianalfabeto bem intencionado. Poupo a memória do dirigente esportivo da comparação de caráter entre ele e o eminente torcedor. Nesse mesmo ontem Lula paramentou-se com os novos ternos de coloração viva escolhidos pela primeira dama, inclusive a sugestiva gravata com imagem de cachorrinhos.

Parêntese: o novo vestuário do presidente veio para demarcar a diferença entre Janja e Marisa Letícia, sob cuja égide Lula envergava ternos mal cortados, nos tons negros e azul escuro típicos do ambiente federal; de diferente, com notas de bom gosto arrivista, só as camisas sob medida vindas do artesão baiano, fornecidas pela mulher do hoje senador Jacques Wagner (o único judeu que aceita comparações do chefe entre Israel e o nazismo alemão). Marisa não ressignificou a roupa e a cabeça do marido; ela sempre foi fiel à origem sindical e suburbana da família.

Lula, agora, vive momento FHC, fantasiado de marido de socióloga sem obra escrita, diploma e louros da Sorbonne. Lula dorme com socióloga e acorda como um Émile Durkeim de alcova. Janja pontificou na rede sua indignação pela morte de Joca, o cão sufocado em voo da Gol. Impregnado pelo travesseiro do tálamo, Lula enverga um cachorrinho da Disney na gravata e cobra satisfações da aérea pela morte do animal. Com a mesma falsa firmeza com que cobrou menas leituras e mais ação ao ministro Fernando Haddad.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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