É dos carecas que elas gostam mais

Por que os homens têm tanto medo da calvície?

Em meio às eleições mais polarizadas e assustadoras de todos os tempos, com quase 700 mil mortes na pandemia e milhões de brasileiros passando fome, foi uma grande surpresa ver que, na semana passada, a matéria que ficou em primeiro lugar como a mais lida no site da Folha foi: “Remédio antigo e barato faz crescer cabelos, dizem médicos. Minoxidil deixa de ser aplicado diretamente no couro cabeludo e está sendo prescrito em pílulas de dose muito baixa”.

O mais curioso é que a matéria não era da Folha, mas a tradução de um artigo do The New York Times. Por que será que os leitores da Folha ficaram tão empolgados com um medicamento para tratamento da calvície?

Li a matéria e aprendi que o minoxidil oral custa alguns centavos por dia, que o medicamento tem sido associado à disfunção sexual e que os carecas considerados mais sensuais do mundo são: príncipe William, Mike Tyson, Jason Statham, Michael Jordan, John Travolta, Bruce Willis, Dwayne Johnson, Vin Diesel e outros de que nunca ouvi falar.

Achei muito mais interessante os comentários dos leitores da Folha: 15 homens e duas mulheres. Por que será que os homens ficaram tão interessados?

O primeiro comentário foi do Mizael: “Sou careca, infelizmente meus cabelos ralearam, mas a dica para ficar em paz com a queda de cabelo chama-se aceitação. Aceita que dói menos. Tem um cidadão aqui que gastou mais de 30 mil para fazer implante e ficou horroroso”.

Venceslau aconselhou: “Por ora, o melhor remédio é assumir a calvície”, já que, a longo prazo, os resultados do minoxidil são insignificantes. Marco disse que minoxidil oral é cilada e vários estudos comprovaram problemas cardíacos graves, inclusive levando à morte. “Essa matéria do NYT já está sendo muito criticada pelo seu amadorismo de não ter consultado um cardiologista”. Para Marcelo, o medicamento, para quem está no estágio inicial, é um grande alívio, mas precisa ficar claro quais são os seus efeitos colaterais.

Mario escreveu: “Pelo que sei, não há nenhum remédio cientificamente comprovado no mercado, se houver seria uma prática de charlatanismo”. Hamilton reagiu: “Tomo finasterida há mais de 15 anos e se não fosse assim estaria calvo”. Flavio contou que começou a ter queda de cabelo com 20 anos e toma finasterida toda manhã. “Nunca mais tive problemas, já passei dos 40”.

Marco Aurélio perguntou: “Faz crescer ou faz nascer cabelos?”, e Célia respondeu: “Uso o Rogaine há cinco anos. O cabelo nasce a partir do folículo que já existe”.

Carlos revelou: “Conheço alguns amigos que usaram no rosto e tiveram um crescimento notável de barba”, e Paulo reagiu: “Eu estou a fim de ficar sem a minha e o cara toma para crescer”.

José Roberto brincou: “Nos tempos dos meus avós havia um remédio popular para crescer cabelo, embora nunca comprovado cientificamente: era titica de galinha”.

Por fim, o comentário do Laudgilson: “É dos carecas que elas gostam mais. A natureza sabe o que faz. O que adianta ter cabelo se perde o tesão?”.

Após ler o Laudgilson, lembrei da marchinha carnavalesca do início dos anos 1940: “Nós, nós os carecas, com as mulheres somos maiorais. Pois na hora do aperto, é dos carecas que elas gostam mais. Não precisa ter vergonha, pode tirar o seu chapéu. Pra que cabelo? Pra que, seu Queiroz? Se agora a coisa está para nós?”.

Aí, infelizmente, lembrei de um certo Queiroz, também careca, e fiquei pensando se essa marchinha não seria politicamente incorreta nos dias de hoje. Afinal, será que o Queiroz não precisa ter vergonha na careca… ops! Perdão… Será que o Queiroz e os seus sórdidos cupinchas não precisam ter vergonha na cara?

Inúmeras pesquisas revelam que um dos maiores medos (ou o maior?) dos homens é ficar careca. Descobri que o medo exagerado de ficar careca tem até nome: falacrofobia. Exatamente por isso, a cura para a calvície é tão pesquisada e desejada.

A palavra agora está com meus leitores e, principalmente, com minhas leitoras: será que é dos carecas que elas gostam mais?

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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