Egoísmo histórico

Governo e elite sempre ignoraram o Museu Nacional

Juscelino Kubitschek, então presidente da República, visitou o Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, em 1958. Depois dele, tivemos na Presidência Jânio Quadros, João Goulart, Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel, Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer e, agora, Bolsonaro. Todos acharam tempo para ir ao Maracanã, ao Sambódromo ou à Festa da Uva. Menos ao Museu Nacional. 

Museu Nacional foi uma das nossas três instituições de pesquisa que, nos últimos 200 anos, falaram de igual para igual com as maiores comunidades científicas do mundo —as outras, o Jardim Botânico e o Instituto Oswaldo Cruz. Alguns dos presidentes citados nem deviam saber para o que elas serviam —o atual, nitidamente, não sabe. Se soubessem, ter-lhes-iam destinado, se não mais verbas, pelo menos alguma admiração.

O museu queimou no dia 2 de setembro último. Dois séculos de investigação e pesquisa e 20 milhões de peças foram devorados pelo fogo. Mas muito pode ser salvo e há heróis trabalhando. Há duas semanas, o Ministério da Educação liberou-lhe um repasse de R$ 908 mil. Foi a primeira parcela de um total de R$ 12 milhões previstos para 2019. O governo deve achar esse valor uma fortuna.

Enquanto isso, há dias, o governo alemão doou ao museu R$ 1,5 milhão. O British Council, R$ 150 mil. Os italianos ofereceram o empréstimo de peças de seus museus arqueológicos e “know how” para restaurar material atingido pelo incêndio —eles tiveram Pompéia, como se sabe. E o Instituto Smithsonian, dos EUA, convidou 14 jovens entomólogos, paleobiólogos e zoólogos brasileiros a continuarem lá os seus estudos até o museu poder voltar a abrigá-los.

Esses países estão fazendo ciência, não caridade. Aqui talvez seja pedir demais que a elite brasileira desperte de seus históricos egoísmo e ignorância e descubra o Museu Nacional.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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