Bolsonaro continua em 2018

O capitão comete o erro dos generais

A frase é atribuída a Winston Churchill: “Os generais estão sempre preparados para combater a última guerra”. Os sinais dados por Jair Bolsonaro indicam que ele quer disputar 2022 com as armas de 2018.

É uma tarefa impossível, porque no meio desse caminho estão os mortos da pandemia, a carestia e seus quatro anos de governo. Lula continua tangenciando o tema da corrupção ocorrida em seu governo, mas falta ao sentimento antipetista o vigor de 2018.

A aura de santidade da Operação Lava Jato virou fumaça. Personagens eleitos em 2018 na onda que levou Bolsonaro ao Planalto desapareceram do mapa, como o fulgurante juiz Wilson Witzel, no Rio, e João Doria, em São Paulo. Romeu Zema, eleito em Minas Gerais, disputa a reeleição descolado do capitão.

No debate organizado por Folha, UOL e TVs Bandeirantes e Cultura, Bolsonaro gastou seus dois minutos de considerações finais (livres de qualquer provocação) para relacionar Lula com os presidentes do Chile, Venezuela, Colômbia, Nicarágua e Argentina. Arrumou uma encrenca diplomática inútil, pois a eleição é no Brasil.

Ademais, enquanto Bolsonaro teve um chanceler que se orgulhava da condição de pária em que o país foi colocado, Lula teve boas relações com o republicano George W. Bush, e o democrata Barack Obama, ao encontrá-lo, disse que “esse é o cara”.

Os dois minutos finais do debate foram usados por todos os outros candidatos para dizer o que querem fazer do Brasil nos próximos quatro anos. Bolsonaro preferiu dizer que não quer que suceda a Pindorama o que estaria acontecendo alhures. Esse assunto é de 2018.

Enquanto Lula lançava pontes para um entendimento com os eleitores de Ciro Gomes chamando-o de “amigo”, Bolsonaro agrediu o pedetista. Má ideia.

Bolsonaro previu que seria massacrado no debate da Band e, de fato, sofreu com as interpelações de candidatos com baixo desempenho nas pesquisas. Essa é a vida de quem vai melhor. De certa maneira, o debate fortaleceu Ciro Gomes e Simone Tebet. Ambos perseguem os votos de pessoas que estão indecisas, não querem votar no capitão ou em Lula e só votam num dos dois se não houver alternativa.

pesquisa do Ipec captou as preferências seguintes à sabatina do Jornal Nacional, mas não cobriu o debate de domingo. Nela, Ciro e Tebet continuaram comendo poeira. Falta uma nova rodada, que reflita o debate da Band. Se ela mostrar um crescimento dos dois, será quase certo o segundo turno.

Bolsonaro tem à sua disposição o 7 de Setembro, que transformou num evento de marquetagem municipal e necrófila com o coração de D. Pedro 1º.

O Bolsonaro do debate da Band falou para uma plateia de 2018 que não existe mais. O candidato que prometia governar com “bancadas temáticas” sabia que isso era uma ficção. Tentou criar seu partido, a Aliança Brasil, fracassou e aninhou-se no velho centrão. Até aí, nada de novo, pois foi esse o percurso de Sarney, Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer. Em 2018 a tarefa lhe foi fácil. Lula estava preso e o governo vulnerável para quem prometia um mundo novo.

Passaram-se quatro anos e o capitão é vidraça. O professor Delfim Netto ensina que os governos precisam abrir a quitanda às 6h da manhã com berinjelas para vender e troco para a freguesia. A berinjela, como o chuchu e o tomate, está cara, e o rapaz que fazia as entregas da quitanda pegou Covid porque não se vacinou.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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