Enfim, a esperança novamente

Não sei se comemoro a vitória de Luiz Inácio. O desequilibrado imbrochável está deixando o Brasil em petição de miséria. Será difícil, muito difícil, administrá-lo. A economia está em frangalhos; o prestígio internacional, ao rés do chão. Em compensação, a pobreza, a miséria e a violência avançam a níveis nunca dantes navegáveis. Além do que, há que se desinfetar os palácios Alvorada e do Planalto, não apenas com água benta, mas também com um bom despacho de esquina. E ainda: recolher a milicada aos quartéis ou às casas e os papa-bíblias, falsos tementes a Deus, aos templos e fazê-los calar a boca. Pobre Lula! Pede ajuda à Janja.

É claro que comemoro a vitória do barbudo. Fez-me sair de casa depois dos oitentinhas e ir à urna com a maior das esperanças. O início do parágrafo inicial foi mero chiste para provocar bolsonarista. Melhor do que o capitão, até uma das emas que circundam o palácio presidencial.

Agora, falando sério: queiramos ou não, Lula é o único político brasileiro capaz de tentar pacificar o país. Poucos colunistas destas bandas o criticaram tanto (como os desmandos e crimes do PT), quando ele ainda estava no poder e depois, quanto o acima assinado. Basta recorrer aos meus escritos de 2004 a 2014, publicados em O Estado do Paraná e, a seguir, no Blog do Zé Beto. A maioria deles está no livrinho “Com todo o respeito, Excelências!”, de 2018, ainda encontrável na Editora Íthala.

Daquelas páginas extraio trecho de um comentário escrito e publicado no início de 2014, para provar o que disse acima:

“Ninguém lamenta mais a tomada do poder pelo PT do que este ingênuo escriba, que um dia acreditou nas boas intenções de Luiz Inácio da Silva e até ajudou, com o seu voto, a entronizar o ex-metalúrgico no Planalto. Do mesmo modo que ninguém lastima mais do eu o atual aparelhamento do Estado, a petização (e o apequenamento) da administração pública nacional, incluindo a economia, a educação e até mesmo a mais alta esfera do Judiciário; a institucionalização da safadeza, capaz de tentar transformar criminosos em heróis nacionais; e o desgoverno dessa farsa chamada Dilma Rousseff, que, só pela autorização dada para compra pela Petrobras de uma refinaria falida do Texas, EUA, e pelo valor pago, já merecia um ‘impeachment’. Mas, com certeza, não será chamando a Cavalaria que resolveremos isso. E muito menos através de justiceiros, torturadores e assassinos, que abominam a liberdade e acham que o povo de uma nação é apenas um detalhe”.

A despeito de toda a divergência que ainda possamos ter com Luiz Inácio e com grande parte de seus seguidores, há momentos na vida em que se é obrigado a relevar e optar por um mal menor. Este é um desses momentos. O Brasil está dividido pelo ódio. Ódio ditado pelo poder central, que joga irmão contra irmão, desrespeita os Poderes constituídos, debocha dos doentes e dos pobres; desmoraliza a educação e a cultura, menospreza as mulheres e os indígenas, fomenta a destruição das matas, das florestas e dos rios, incentiva o uso de armamento… Situações muitíssimo piores do que no tempo petista. E isso tudo com uso da máquina administrativa, o uso do dinheiro público e o apoio de um Legislativo sem nenhuma credibilidade.

Lula tem lá os seus defeitos. Precisa ainda provar que amadureceu, que se livrou das más companhias e de eventuais más intenções. E que, ao final da vida, quer apenas deixar um país livre de mentiras, de patifarias; com liberdade, direção e democracia; com mais igualdade social, mais fraternidade, mais oportunidades e mais esperança.

Foi por isso que recebeu sessenta milhões de votos no segundo turno eleitoral. E é isso que está prometendo. Tem várias e indiscutíveis vantagens sobre o adversário ora no poder. Algumas delas: é um ser humano e sabe ouvir a voz das ruas. Se desafinar, será novamente repreendido. Com a devida severidade. Mas tem tudo para dar certo. Que Deus ajude o Brasil a encontrar o seu caminho!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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