Quando começou, era uma partida entre um campeão de xadrez e um computador. O homem, já levando a vantagem de jogar com as brancas e começar o jogo, ganhou a primeira e todas as seguintes. Era natural —como uma máquina burra poderia derrotar o homem? Mas, um dia, o computador, que não era burro, venceu e seguiram-se muitas vitórias. Foi quando o computador soube da frase de Bernard Shaw, de que a capacidade de jogar xadrez desenvolve tremendamente a capacidade de jogar xadrez. E, como não era burro, deixou os cavalos e bispos para o homem e investiu sua inteligência em coisa mais séria. Por exemplo, tomar o poder.
Neste momento, 350 dos maiores cientistas do mundo na área da tecnologia estão apavorados com o avanço da inteligência artificial, nome já reduzido à terrível sigla em maiúsculas IA. Para eles, dependendo da progressão da IA, a humanidade corre risco de extinção semelhante ao de uma guerra nuclear, de uma pandemia sem controle ou da destruição do meio ambiente.
Teme-se que, com a IA, a desinformação em massa, com tsunamis de fotos, vídeos, áudios, textos e números falsos, faça com que as pessoas não saibam mais o que é verdade. Ninguém confiará em ninguém, e isso romperá os sistemas de crédito e comércio internacional. Seguir-se-ão falências gigantes, com desemprego planetário e substituição de trabalhadores humanos por robôs. Já se acredita que os robôs fazem melhor do que nós em quesitos complexos.
Cientistas que participaram do desenvolvimento da IA estão se demitindo das empresas de tecnologia que eles próprios criaram —porque não querem se comprometer com o que vai acontecer. Discordo. Como corresponsáveis pelo estrago, deveriam lutar para amenizá-lo ou para retardar seus efeitos.
Para eles, impedir o avanço da IA está fora de cogitação. Não depende mais de nós. Nesse tabuleiro de xadrez, já não jogamos com as brancas.