Ernesto Araújo torna-se bode expiatório que convém a Bolsonaro

Se o chanceler Ernesto Araújo for afastado do cargo, como pedem senadores e líderes do Centrão, não será porque ofendeu o governo chinês em plena pandemia, esqueceu de usar máscara numa coletiva em Israel, ou apostou na reeleição do ex-presidente americano Donald Trump. Nada disso derrubaria o ministro. Ele cairá, se esse for, de fato, seu destino, porque virou o bode expiatório da vez. 

Assim avaliam no Itamaraty o atual momento do chefe da diplomacia brasileira. A sensação é de que Araújo vive o pior momento de sua gestão à frente da pasta e, se até mês passado ninguém apostava em sua saída, hoje o desfecho da nova crise é considerado incerto.

Não que o presidente Jair Bolsonaro esteja insatisfeito com o trabalho de Araújo. Não está e nunca esteve. Mas a deterioração extrema da situação sanitária no Brasil exige sacrifícios. Alguém, em palavras de diplomatas, deve pagar por um festival de incompetências.

Se o Brasil não conseguiu, ainda, a quantidade de vacinas necessárias, analisa-se internamente, não será um novo chanceler quem vai resolver esse problema. Cabe ao Ministério da Saúde e ao presidente mudar de estratégia. Mas o ministro da Saúde acaba de ser trocado, e essa mudança não acalmou os ânimos entre aliados de Bolsonaro.

A saída do general Eduardo Pazuello foi pouco. Por isso, agora o nome da vez é Ernesto Araújo. Em dois anos, o chanceler cometeu uma série de erros, em nome de seu alinhamento total com Bolsonaro e a ala ideológica do governo. Para muitos, foi escolhido como ministro por essa sintonia fina com as teorias de Olavo de Carvalho, que tanto encantaram o presidente e seu séquito mais próximo. Bolsonaro nunca cogitou pedir a renúncia de Araújo, basicamente por este sempre ter sido funcional ao projeto de poder do presidente.

O problema hoje não é de sintonias, ou erros que outros apontam, mas que nunca incomodaram Bolsonaro, afirma-se nos corredores do Itamaraty. É que todos esses erros ganharam uma nova dimensão com a aceleração da pandemia e o Brasil se tornando epicentro global. Araújo estará, se for o caso, pagando pelo conjunto da obra. Não se fazem mais apostas, o jogo mudou.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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