É amanhã: A tragédia do Pinheirinho

Eis aqui uma recomendação literária que faço com o maior prazer. Não apenas pelo autor, mas também pelo conteúdo.

Mário Montanha Teixeira Filho, colaborador do blog do Zé Beto, velho companheiro de luta e pessoa da minha maior estima, estará lançando nesta sexta-feira, 28/07, às 19 horas, no Salão Nobre do Setor de Ciências Jurídicas, do prédio histórico da Universidade do Paraná, ali na Praça Santos Andrade, “Desocupação do Pinheirinho – a Justiça tem lado”.

O Pinheirinho a que ele se refere, para quem não sabe, é um loteamento situado na zona sul de São José dos Campos, a cerca de 90 quilômetros da capital paulista. Até a década de 70, a região era uma grande propriedade de policultura. Em 1981, o terreno teria sido vendido ao empresário Naji Nahas, que pretendia desenvolver um projeto de loteamento. No entanto, acabou afastando a ideia. A empresa de Nahas, Selecta, faliu em 1990 e o terreno permaneceu abandonado.

Em 28 de fevereiro de 2004, o local foi ocupado por aproximadamente 300 famílias, amparadas por um acordo firmado com a prefeitura de São José dos Campos. No mesmo ano, a massa falida da Selecta ingressou na 18ª Vara Cível da comarca com um pedido de reintegração de posse. Em 2012, o número de habitantes no local era estimado entre 6 e 9 mil pessoas. Ali também já se encontravam estabelecidos associação de moradores, sete igrejas, sendo seis evangélicas e uma católica, além de inúmeros estabelecimentos comerciais.

A decisão de reintegração de posse foi tomada em meio a um imbróglio jurídico, tendo a justiça federal suspendido a ação e a justiça estadual ignorado a suspensão. Entidades como a OAB, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão, e o Conselho Federal de Psicologia, entre outras, questionaram a legitimidade e a validade jurídica da reintegração. No entanto, em 22 de janeiro de 2012, mesmo antes de uma decisão do STJ, a reintegração teve início, desencadeando enorme conflito entre os moradores e as autoridades, de trágicos resultados e repercussão nacional e até internacional.

O livro de Mário Montanha é um registro histórico de enorme importância. Até porque, com a categoria e a escrita precisa do autor, são identificados os responsáveis pelo massacre daquele domingo, uma chacina lamentável sob todos os aspectos, “motivada”, como bem assinala o Mário, “por interesses opacos, feito à margem das garantias constitucionais, para dar à propriedade privada um sentido de totalidade que ela não tem”.

Vale lembrar quem foi e quem é o senhor Naji Nahas – uma figura das mais nefastas da história do Brasil, um especulador do mercado financeiro, de nacionalidade libanesa, que, entre outras “proezas”, conseguiu quebrar a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. E continua por aí, livre e faceiro, em busca de novas falcatruas, como a operação conhecida como Zé-com-Zé, em que ele comprava e vendia ações para si mesmo, através de “laranjas” e, dessa forma, manipulava uma alta artificial das ações. Como se vê, gente da mais ilibada conduta, frequentador contumaz de palácios e autoridades, inclusive judiciárias.

Está tudo no livro do Mário. Leitura obrigatória.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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