O chato de plantão

DOMINGO ensolarado, bem cedo, céu límpido, trégua da chuvarada, friozinho, tudo convida à caminhada. Oito quilômetros no celular, maratona de sedentário. Tirando o caldo de cana calórico e açucaroso, lugar nenhum para espantar o cansaço, a sede e a fome. Aos trancos, divisa-se ao longe o costelão, oásis das carnes animais, aberto 24 horas. Vamos, ela de sorvete e água mineral, eu, de cerveja e linguiça. Não há mal bem que nunca acabe: ali aporta o chato de plantão, figura onipresente que varia o nome e preserva a inconveniência. Ele estaca diante da mesa com o óbvio irritante: “Você de linguiça, ela de sorvete?” Que dizer? Retruco com a apóstrofe atrevida: ‘É servido de morder o sorvete e chupar linguiça?’ Impassível, nem a mais leve sombra do sorriso amarelo, cumprida a missão existencial, o chato vai embora.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Rogério Distéfano - O Insulto Diário. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.