Faça o seu próprio Carnaval

As marchas eram alegres; os sambas, tristes. Estão todos no YouTube

Ontem, domingo de Carnaval, a consciência do vazio. Não há nem pode haver Carnaval este ano. Mas o silêncio pode ser quebrado pela memória. E há muito que lembrar, tanto dos Carnavais que vivemos ou herdamos de nossos pais quanto dos que nos foram trazidos pelos discos ou pela memória dos outros. É um legado de alegria e beleza, difícil de igualar por qualquer outra música popular. E, ao nos deixarmos levar, veremos que é muito mais rico, temática e ritmicamente, do que pensamos.

Sim, as marchinhas estão hoje reduzidas a “Mamãe, Eu Quero” (1937), “Touradas em Madri” (1938), “Alá-lá-ô” (1940) e “Cabeleira do Zezé” (1964). Mas há centenas a descobrir, como “Moreninha da Praia” (1933), “Eva Querida” (1935), “Aurora” (1941), “Maria Escandalosa” (1955). Se forem ingênuas para nossos dias, há as picantes, como “Nós, Os Carecas” (1942), “Ruas do Japão” (1944), “Mamãe, Eu Levei Bomba” (1958), “Pó de Mico” (1963). E o que dizer das marchas líricas, de grande autoridade melódica, como “Formosa” (1933), “Rasguei a Minha Fantasia” (1935) ou “Serpentina” (1950)?

E as marchas-rancho, como “Malmequer” (1940), “Dama das Camélias” (1940) ou “Os Rouxinóis” (1958)? E as valsas, como “Nós Queremos Uma Valsa” (1941) e “O Danúbio Azulou” (1943)? E as batucadas, como “Nega Maluca”, “General da Banda” e “A Coroa do Rei”, todas de 1950? E os cocos, como “Bigorrilho” (1964)? E os frevos, como “Evocação” (1957)?

Mas nada supera os sambas. Eles eram o grande Carnaval: “Dorinha, Meu Amor” (1929), “Até Amanhã” (1933), “Agora É Cinza” (1934), “Implorar” (1935), “Ó Seu Oscar” (1940), “Atire a Primeira Pedra” (1944), “É Com Esse Que Eu Vou” (1948), “Madureira Chorou” (1958), “Fechei a Porta” (1960), “Quero Morrer no Carnaval” (1961), “Eu Agora Sou Feliz” (1963), muitos mais.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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