Falar, só na Paulista

O silêncio de Jair Bolsonaro em depoimento à Polícia Federal, na tarde de ontem, era esperado e não muda em nada sua situação na investigação sobre tentativa de golpe de estado. Sempre que se vê acuado, Bolsonaro parte para o confronto. Falar à PF seria colaborar; o confronto é falar diante da sua claque na avenida Paulista, em São Paulo, no domingo,e negar tudo que foi descoberto.

Do ponto de vista estratégico, era melhor para Bolsonaro não responder às perguntas dos delegados da PF sobre todas as evidências que existem de armação de um golpe de estado por ele e seus aliados. Além de não conhecer todas as provas da investigação – em especial a delação do tenente-coronel Mauro Cid -, ele não teria como contestar mensagens escritas, áudios, pronunciamentos e documentos encontrados nos últimos meses.

Bolsonaro só tem o discurso político a seu lado – e este não precisa ter lógica, ser verdadeiro ou razoável. No palanque, diante de apoiadores, ele poderá falar o que quiser que será aplaudido, como aconteceu nos últimos quatro anos. Os delegados da PF estão interessados em provas e argumentos; Bolsonaro está empenhado em versões e slogans.

O que resta a Bolsonaro é criar um clima hostil à sua eventual prisão – que ele teme e acredita que virá em breve. Tentar defender-se por meio de um depoimento entre quatro paredes, que não será lido em público por meses, não serve a ele como peça de propaganda.

Bolsonaro parece acreditar que só evitará a prisão se causar o máximo de prejuízo público possível, ainda que para isso seja preciso repetir um 8 de janeiro. Não está em seu roteiro tentar defender-se.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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