Elétron – Parte I

Em 432 voltimetranos houve uma movimentação muito sutil na vida dos moradores de um vilarejo na região norte de Watts. Nesta época havia muitas divisões no vilarejo e ninguém percebeu que a cada anoitecer a escuridão ficava mais e mais densa de modo que até os dias já não eram mais claros como antes. Neste mesmo tempo havia muitas discussões entre todos os luzeiros locais discutindo sobre a noite e o que eles podiam fazer para influenciar o escuro de modo que se tornassem como a luz, lugar onde há sempre trabalho e movimentação.

Todas as lâmpadas, todas as lanternas, todos os faróis e tudo aquilo que iluminava aquiesceram em montar um plano para dirimir o aumento da escuridão no que resultou em várias reuniões, que por sinal eram sempre muito alegres, com muita música, muita festa e literalmente muitas luzes. A princípio a ideia que todos os luzeiros tiveram, pareceu-lhes muito interessante e fazia muito sentido, sabendo-se que se todos se reunissem no mesmo lugar a sua intensidade de luz seria (como a de um farol) muito mais forte e o alcance muito mais longe, sem contar que a cada reunião aumentava-se mais o número de luzeiros que consequentemente fazia com que aumentassem o número de reuniões semanais.

No entanto algumas coisas haviam passado despercebidas debaixo dos olhos dos luzeiros; A cada encontro a sua felicidade era maior que a sua dor, embora o seu mestre havia avisado que a intensidade da luz de cada um se aumentaria à medida da pressão que cada um era submetido, os mesmos ignoraram essas palavras e passaram a perder paulatina e imperceptivelmente a sua luz. Antes, quando estavam espalhados pelo vilarejo, a sua indignação com o escurecer fazia com que eles buscassem o seu mestre que muitos chamavam de Big Bang, mestre este que muitos não sabiam explicar quem ele era e nem o segredo de como que cada vez que cada indivíduo entrava em seu quarto para escutar a sua voz, a intensidade de sua luz se aumentava. Uma das poucas coisas que se sabia era que da primeira vez que o Big Bang falou, ele deu origem a todos os luzeiros, muitos também falavam que de tempos em tempos Bang batia na porta das reuniões dos luzeiros mas eles não a abriam porque já não conheciam a sua voz por Ele sempre estar se apresentando de forma diferente.

Outro ponto despercebido era que a escuridão do lado de fora, não era simplesmente trevas e estas eram densas como uma forte neblina; e como um carro que aciona a luz alta na serra e acaba enxergando menos por causa do reflexo que a torna uma cortina de fumaça, assim eram os encontros dos luzeiros; além de que mesmo estando todos esse luzeiros juntos, a sua luz não alcançava mais do que poucos metros de seu local de reuniões. Antes o que acontecia, era que essas poucas luzes que estavam espalhadas iluminavam o seu perímetro mas agora a ótima ideia de se reunirem e se tornarem um canhão de luz não surtira o efeito esperado. Ao sair de uma reunião dois pequenos irmãos, um se chamava Próton e o outro Elétron, conversavam. – Ei mano próton você percebeu que depois que começamos a frequentar as reuniões nossa alimentação mudou e além de estarmos mais inchados a nossa massa estranhamente diminuiu, sim respondeu seu irmão e logo o interpelou:

Você reparou que nossa velocidade diminuiu e começamos a ser mais vistos e lembrados? Antes iluminávamos e realçávamos a cor de todas as coisas visíveis, mas agora somente a nós mesmos e isto já me cansou.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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