Diário da crise CCCLXXXIII

Impossível ficar indiferente ao assassinato de um menino de quatro anos, chamado Henry. O acusado é um vereador chamado Dr. Jairinho, membro do Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio.

As suspeitas nasceram dos laudos médicos que indicaram múltiplas e graves lesões no corpo do menino. Dr. Jairinho e a mãe do menino diziam que ele sofrera um acidente, algo que a perícia na casa mostrou uma tese falsa. Não importa de onde caísse, da cama, da estante ou da mesa, o menino não sofreria tão variadas e graves lesões.

Pessoalmente, lendo o noticiário, sobretudo depois do laudo, achava que havia alguma coisa errada na versão do casal. Fiquei mais desconfiado ainda com a notícia de que Dr. Jairinho ligou para o governador Cláudio Castro pedindo ajuda. O que um governador pode fazer num caso desses? Interromper investigações.

Hoje, sabe-se também que ele ligou para um executivo do hospital pedindo que fosse dado um atestado de óbito para evitar que o corpo do menino fosse levado para o IML e examinado em detalhes.

Agora ficamos sabendo que o Dr. Jairinho já espancou uma  criança, quando vivia com outra mulher.

Através das conversas da babá com a mãe de Henry, a polícia descobriu também que o Dr. Jairzinho espancava Henry com frequência.

Uma história espantosa. Amigos me lembram que os programas sobre crimes nos Estados Unidos registram alguns crimes semelhantes.

No entanto, nenhum deles se lembra de um caso em que uma criança de quatro anos seja espancada até a morte, passando por esse terror e sofrimento.

Tudo isso acontece no meio de uma pandemia. Não podemos deixar de seguir, mas sabendo que logo adiante nos espera de novo a tragédia brasileira: mais de quatro mil mortes diárias, escassez de oxigênio em centenas de cidades e também um perigoso fim de estoques de sedativos, essenciais para os pacientes intubados.

Enquanto tudo isso acontece, o Supremo decide se é permitido culto religioso no auge da pandemia. Tenho falado sobre o tema, mostrando que não se trata de coibir a liberdade religiosa, mas sim aglomerações. A liberdade sindical, por exemplo, está mantida, mas não assembleias, a liberdade política está mantida, mas não convenções presenciais. Tudo isso nesse momento, no curto prazo de tempo em que precisamos aliviar as UTIs que estão cheias, assim como reduzir o consume de oxigênio e sedativos, com a queda dos casos graves.
Hoje fui dar uma volta na Lagoa e descobri que o sol não está mais tão presente, assim como o ventinho  soprou um pouco mais frio. Se somarmos isso às chuvas de março que já caíram, embora em menor volume, acredito que acabou o verão.

Não tenho nada contra outono e inverno, sobretudo o inverno. No entanto, não é bom entrar nele com uma pandemia tão descontrolada.  A sequência das estações pode jogar contra nós. Por isso é preciso se vacinar também contra a influenza e seguir lavando as mão com frequência, um hábito que deve nos acompanhar por toda a vida.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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