Ele ainda vai pedir perdão!

O atual ocupante do trono presidencial, aquele cujo nome não deve ser dito nem escrito, sob pena de maldição divina, não é o primeiro desequilibrado a desgovernar o Brasil. Já houve outros. Para citar apenas os mais recentes: Jânio da Silva Quadros (31/01 a 25/08/1961) e Fernando Collor de Mello (15/03/1990 a 02/10/1992).

Ainda que o historiador deste blog seja, hoje, o nosso Paulo Roberto Ferreira Motta, vou me atrever a ingressar na seara dele, focalizando um dos acima citados aloprados. Para tanto, valho-me, outra vez, do livro “Luz e Trevas nos Tempos do Juscelino”, de Hermógenes Príncipe, do qual lhes falei na semana passada.

Apesar de suas repetidas maluquices, Jânio Quadros, ex-prefeito da cidade de São Paulo e ex-governador do Estado de São Paulo, era uma figura popular no final dos anos 50 e início dos anos 60. Histriônico e teatral, tinha atitudes estranhas, como colocar poeira nos ombros dos paletós, para simular caspa, comer sanduíches de mortadela sentado no meio-fio das calçadas e tomar caipirinha em muquifos da periferia das cidades. Seu linguajar era rebuscado, embolado, tentando dar a ideia de sabedoria e cultura. Passava também a imagem de bom administrador, probo e inflexível. Como símbolo político, usava uma vassoura, com a qual, dizia, iria varrer a corrupção do Brasil.

Com esse histórico, o mato-grossense Jânio da Silva Quadros chegou à Presidência da República, sucedendo ao então popularíssimo Juscelino Kubitschek de Oliveira. Avisou que, na posse, faria um duro discurso, com pesadas críticas ao governo de JK. Alertado de que, se assim procedesse, receberia uma bofetada pública de Juscelino, preferiu usar o programa “A Hora do Brasil”. Ali, desfilou grosseiros ataques ao governo que sucedia, criticando e condenando as grandes obras que haviam sido feitas no quinquênio anterior.

Aos poucos, porém, foi aviltando a auréola de salvador da Pátria e cometendo uma série de medidas polêmicas e/ou idiotas, como a proibição de brigas de galo e de desfiles de maiô em concursos de beleza. Abusava do álcool e, além de perder a base política no Congresso, foi perdendo o apoio popular.

Então, com menos de sete meses de mandato, idealizou uma estratégia, segundo a qual renunciaria ao cargo de presidente, na esperança de que a renúncia levasse o povo a pedir a sua volta para governar com mais poderes, já que o vice-presidente João Goulart, que não tinha a simpatia dos militares,  encontrava-se na China, em viagem oficial. Ledo engano. O presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, ao receber a carta-renúncia, declarou vago o cargo e entregou-o ao presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzili, como pregava a Constituição Federal.

O que se seguiu foram anos de horror, desgraças e mortes, que duraram mais de duas décadas, com a Carta Magna vilipendiada e a democracia asfixiada. Mas isso já é outra história, que não vale a pena recordar agora.

O que interessa aqui é o desfecho entre Juscelino e Jânio, ambos com os direitos políticos cassados. Jânio, no ostracismo, continuou tomando a sua pinguinha, mas Juscelino sofreu terrível perseguição, respondeu a processos e foi obrigado a deixar o Brasil para não ser preso.

Conta Hermógenes Príncipe que, em certa ocasião Juscelino estava o Guarujá, cidade balneária paulista, na residência de Sebastião Paes de Almeida, quando recebeu um pedido de Jânio para visitá-lo. Surpreso, mas generoso como sempre fora, resolveu atender ao pedido. Na hora marcada para a visita, Jânio chegou e ficou aguardando JK. Quando este apareceu, atirou-se aos seus pés, dizendo: “Perdoe-me, presidente, perdoe-me…!”.

Juscelino contou a Hermógenes que ficou tremendamente constrangido com o ato teatral de Jânio, que queria beijar-lhe as mãos. Disse-lhe que disfarçou, procurando desfazer a situação que o constrangia, asseverando-lhe: “Hermógenes, eu não era nenhum santo e ver um ex-presidente do Brasil me pedir perdão era demais”.

Como a História vive se repetindo, chegará o dia em que o genocida desmiolado que hoje nos desgoverna haverá de atirar-se aos pés do Brasil e, de joelhos, pedir perdão aos brasileiros pelos tantos males que fez e faz a todos nós.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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