Gonçalves só o Nélson

O ministro Benedito Gonçalves distribuiu seu voto para exame dos colegas antes do julgamento da inelegibilidade de Jair Bolsonaro: pelo noticiário, serão 450 páginas (ou laudas, como preferiam os juristas de antigamente; os de hoje contam em caracteres). Está certo que a era Bolsonaro foi um período de guerra e exigiria muito mais para contar todas as maldades do facínora. Mas o julgamento no TSE é sobre tretas eleitorais, e não foram tantas assim, o cara era tão inepto que vai cair pelas poucas e mais graves.

Guerra por guerra, vamos à literatura de guerra. Dois exemplos. Um, a invasão da Rússia por Napoleão rendeu o Guerra e Paz, de Leon Tolstoi, 1.544 páginas na edição da Civilização Brasileira. Apesar da extensão, é obra excelente, ícone literário. Outro, o Adeus às Armas, de Ernest Hemingway, sobre a primeira guerra mundial, 392 páginas na edição Bertrand. Hemingway também é icônico, e ao contrário de Tolstoi, seu texto é enxuto, até telegráfico (confira dele O Velho e o Mar, releitura livre do Moby Dick, de Herman Melville).

O ministro Gonçalves é jurista, que pelo trato da arte deve mostrar tudo que leu para dar autoridade ao que decide. O leitor que depois se vire no Google. Seu caso vem agravado pelo fator Deltan Dallagnol, que acusou o ministro de julgá-lo rápido e convencer os colegas em conversa de cinco minutos nos bastidores. Vergado ao chororô da demagogia, o americanófilo Dallagnol esqueceu que os julgamentos da Suprema Corte americana no geral chegam a termo depois de muita conversa de bastidores em busca da solução consensual, quando não unânime.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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