O STF entra no modo Clarence Thomas, o ministro da Corte Suprema dos EUA, que deu liminar a favor de aliados de Donald Trump quando sua mulher trabalhava como lobista deles. E que por anos recebeu presentes, hospedagem de férias, viagens no jatinho particular do amigo milionário com processos no tribunal a quem, entre outras situações de discutível transparência e idoneidade, vendeu casa de sua propriedade (sem outras ofertas e sem estar no mercado). A Corte Suprema não tem sistema de correição, no pressuposto de que, sendo o tribunal mais alto da nação, não pode ser submetido ao controle de suas ações – nem por impeachment do Congresso. Daí Thomas sempre recusar, com o silêncio obsequioso e cúmplice, dos colegas, a dar-se por impedido de julgar casos em que é visível o interesse profissional na causa. O STF envereda por esse rumo, com a sobranceria dos que se pretendem acima de qualquer suspeita.
Como o ministro Dias Toffoli, que acaba de dar liminar a caso milionário patrocinado pelo escritório de sua mulher, advogada do beneficiário. Os ministros da Corte Suprema e do nosso Supremo não são iguais às demais autoridades. Os ministros do STF não querem ser iguais por que se pretendem muito mais iguais; sem qualquer parâmetro de comparação instituem-se acima de qualquer suspeita, mínima que seja. Quem evita ser igual, acaba sendo desigual, no sentido pernicioso da desigualdade, o maior dos pecados republicanos. É isso, os ministros do STF e da Corte Suprema são iguais entre si e mais iguais, ou desiguais em relação ao resto do mundo – povo e poder constituído. A ação de Toffoli, oficializada no STF, que deu presunção de legitimidade à atuação de parentes de ministros na Corte, lembra os papas medievais, infalíveis e com decisões inquestionáveis porque levavam o atributo de dogmas e artigos de fé. Os juízes supremos repetem os infalíveis papas de antanho.