Inferno é quem idolatra religiosos

De tempos em tempos descobrem que os santos não são santos

O que me espanta não é o Dalai Lama ter pedido a uma criança que ela chupasse sua língua, me admira que tanta gente tenha ficado chocada que um líder religioso possa ter tido algum tipo de conduta criminosa. Nossa, até o Dalai Lama. Como assim, até o Dalai Lama? De tempos em tempos descobrem que os santos não são santos.

Metade da internet já o condenou, a outra metade aponta demência, aspectos culturais e dificuldade do líder budista com a língua, o inglês. Deixo essa rinha para os outros. O problema não é só o Dalai, é constatar que o mundo que se consterna é o mesmo que dá sustentação a estruturas de poder que atendem pelo nome “religião”.

Há décadas chafurdamos em histórias de líderes espirituais pedófilos, estupradores, racistas, misóginos, homofóbicos, assassinos, corruptos, mas a humanidade insiste em transformar homens em divindades, em canais diretos com Deus, com o paraíso ou com o inferno. Mas o inferno é aqui.

Dalai Lama, certamente já enaltecido por boa parte das pessoas que o apedreja, é o boi de piranha da vez. Sacrifica-se o santo do pau oco, mas ninguém move um pedregulho para que os alicerces que sustentam as religiões sejam desestabilizados. Em nome da evolução espiritual, seguimos coniventes com abusos econômicos, sociais, sexuais, mantidos pelas igrejas há milênios. Não aprendemos nada com João de Deus, Jim Jones, Prem Baba e outros milhares de bispos, padres, pastores? Claro que não.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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