Já dizia o ditado, o homem é o Moro do homem

Os descaminhos do enxadrista que foi ex-juiz e ex-ministro e, agora, pode se tornar um ex-senador

O enxadrista Sergio Moro voava alto. O juiz corajoso que jamais pedia escusas à corrupção tinha aura de super-herói.

As delações premiadas revelaram um amplo esquema de corrupção que levou até empreiteiros para a cadeia. Os embates com Lula lhe conferiam mais poder que a seu antagonista. A prisão de Lula, que liderava as pesquisas eleitorais, mudou o jogo político.

Mas já dizia o ditado, o homem é o Moro do homem.

Algumas pistas já apontavam a um caminho questionável, como a divulgação bombástica de um telefonema de Dilma para Lula. Fora a fama repentina de Bessias, a isonomia de Moro permanecia ereta.

Mas já dizia o ditado, o homem é o Moro do homem.

Eis que o incólume magistrado resolve se dedicar integralmente à política. Sergio Moro aceita o convite para ser superministro do candidato que venceu as eleições disputadas sem Lula, que foi preso por Sergio Moro. Fora a rejeição da esquerda, o superministro irrigou o coração de milhões de brasileiros com a redentora esperança. Agora, pensavam, o combate à corrupção chegaria à raiz do problema. Moro estava cotado para o STF.

Mas já dizia o ditado, o homem é o Moro do homem.

as reportagens publicadas pelo The Intercept Brasil levantaram suspeitas de que o juiz Sergio Moro tinha agido de forma parcial no julgamento de Lula. As reportagens, apelidadas de Vaza Jato, sugeriam que Moro passou informações privilegiadas, orientou, deu conselhos e serviu cafezinho aos antagonistas de Lula. O ex-juiz questionou a autenticidade das mensagens e garantiu a imagem ao trabalhar no pacote anticrime.

Mas já dizia o ditado, o homem é o Moro do homem.

Destratado por Jair Bolsonaro em reuniões, Sergio Moro foi perdendo espaço no governo. Mas convocou uma entrevista coletiva para fazer graves denúncias de interferência do presidente. Fora a antipatia da esquerda e dos bolsonaristas, milhões ainda pensavam que Moro não se curvaria a nenhum tipo de corrupção.

Mas já dizia o ditado, o homem é o Moro do homem.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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