Jair Bolsonaro é Centrão; Jair Bolsonaro é Cifrão

O presidente da República não está fazendo reforma ministerial, mas levantando um dique contra a abertura do processo de impeachment

A ida de Ciro Nogueira para o Ministério da Casa Civil e a criação do Ministério do Trabalho (esse é o nome verdadeiro a joça, não importa como a chamem), renascido de uma costela da pasta da Economia e chefiado por Onyx Lorenzoni, não é reforma ministerial, mas dique contra a abertura do processo de impeachment de Jair Bolsonaro.

O Centrão vem cobrando um preço cada vez mais alto para manter o presidente no cargo, desde que estouraram os escândalos das vacinas e expoentes seus, como o próprio Ciro Nogueira, Arthur Lira e Ricardo Barros viram-se enredados nas negociações nebulosas em torno da compra de vacinas pelo Ministério da Saúde.

Além de citar Ricardo Barros, líder do governo, na conversa em que o deputado Luis Miranda e o seu irmão, Luis Ricardo, denunciaram o esquema em andamento na compra da Covaxin, o presidente da República teria citado Ciro Nogueira e Arthur Lira como supostos envolvidos na maracutaia. Isso tem um preço, e ele agora pode ser verificado com o que vem sendo chamado impropriamente de reforma ministerial.

Com Ciro Nogueira na Casa Civil e a criação de uma nova pasta na área econômica, que até então procurava (não muito) resistir à insaciabilidade do Centrão, abrem-se ainda mais as comportas para o fisiologismo que Jair Bolsonaro prometeu exterminar durante a sua campanha. O estelionato eleitoral perpetrado em 2018 fica ainda mais evidente. Para além de ceder ao fisiologismo que lhe garantirá o atual mandato, o presidente da República torna-se ainda mais refém do Centrão para tentar reeleger-se em 2022. Tudo ficará mais fácil com a Casa Civil comandada por Ciro Nogueira e o Ministério do Trabalho chefiado por Onyx Lorenzoni: as articulações com o objetivo de comprar votos por meio do assistencialismo, que é prática sistemática dessa vanguarda do atraso que domina a vida nacional, e a aquisição (o termo é perfeito) dos sindicalistas de resultados, que querem ver as suas mamatas restabelecidas, em troca de apoio político.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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