Janja, agora também comendadora

LULA concedeu a Ordem do Rio Branco, no mais alto grau, a Janja, sua mulher e primeira dama. A ordem é a mais importante e distinta condecoração da República. O regulamento da honraria abre com este parágrafo “a Ordem de Rio Branco foi instituída pelo Decreto nº 51.697, de 5 de fevereiro de 1963, com o objetivo de, ao distinguir serviços meritórios e virtudes cívicas, estimular a prática de ações e feitos dignos de honrosa menção”. Pois bem, o que Janja fez para merecer a comenda? Uma coisa, casou com o presidente e, antes disso, deu-lhe amor e carinho quando preso pela operação Lava Jato. Lula fez mal? Não, fez igual – em maior ou menor grau mas no mesmo espírito – de seus antecessores. Como Jair Bolsonaro, por exemplo, que a concedeu para Micheque, sua mulher, que no governo do marido obsequiou o Brasil com vulgaridade e expressões de cinismo explícito.

No estrito teor do decreto abre-se um oceano de discricionariedade ao presidente da República para definir “virtudes cívicas, serviços meritórios e prática de ações e feitos dignos de honrosa menção”. Olhando o panorama histórico mundial, só vejo uma pessoa que mereceria a comenda por ser mulher de presidente: Eleanor Roosevelt, primeira dama de Franklin Roosevelt em quatro mandatos, que além de ser ator decisivo na área social durante o governo do marido, fez-se ainda mais ativa depois de viúva. A comenda para Janja vem de um decreto propositadamente aberto, vago, como os decretos dos imperadores romanos, cuja legitimidade vinha da definição imperial do “lex est quod Caesar placuit”, lei é aquilo que agrada ao imperador. A prática de comendas e faixas é de sabor cucaracha, bananeira, vazio, vaporoso e fluido, cínica e hipocritamente viciado pelo desvio de finalidade. O presidente, feito coronel do cutelo e baraço mima a mulher pela intimidade conjugal, alheio ao mérito público e patriótico.

A cláusula difusa e imprecisa da norma que regula a comenda serve exatamente para isso. No tempo da outra primeira dama, Marisa Letícia, Lula beijava a mulher como demonstração de carinho. A comenda para Janja está dentro do currículo que ela inventou: o da “ressignificação”, que ainda custará caro nas relações internacionais, como dar palpite sobre o conflito da Palestina e sobre a eleição de Javier Milei. A honraria de Lula para a mulher lembra a justificativa do político fisiológico que criticado por dar emprego à mulher e à mãe, defendeu-se com a motivação serve para Lula: cabe perfeita na comenda que nosso presidente deu a Janja: “Ambas merecem, uma porque me pariu, outra porque dorme comigo”. Se Janja pelo menos brindasse o Brasil com dois Lulinhas … afinal, os filhos de Marisa Letícia estão injustamente esquecidos com o protagonismo de Janja, igual a Micheque nos isolamento dos zerinhos do marido.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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