Os grandes jornais que ainda existem no Brasil – parte final

“O mal Estado de Minas”. Mais um empreendimento jornalístico de Assis Chateaubriand, dessa vez na capital das Alterosas, fundado em 1928. Ao lado do “Correio Braziliense com Z”, foi o que restou dos mais de 50 jornais que Chatô fundou pelo Brasil. Já teve como repórteres políticos os ainda jovens Tancredo Neves e Carlos Castello Branco (o Castelinho, honra e glória do Jornal do Brasil). Apoiou, desde a fundação, todos os governadores do referido Estado, inclusive o do PT, já que não se pode abrir mão da publicidade oficial. Romeu Zema que o diga. Seu mais importante colunista, desde o falecimento do extraordinário escritor Roberto Drummond, é ninguém.

“Zero a Zero e Hora a Hora’. Sobre os escombros da edição gaúcha de Última Hora, o jornal nasceu em Porto Alegre, em 1964, pelas mãos do jornalista Ary de Carvalho (último diretor de UH Porto Alegre). Mais tarde, foi adquirida por Maurício Sirotsky Sobrinho e pertence até hoje à citada família, além de inúmeras estações de rádio e TV, que retransmitem a programação da “Rede Lobo”. Maurício Sirotsky Tio também tinha um sobrinho famoso: Samuel Wainer e deixou dois filhos que não fizeram feio: Nahum e Sani Sirotsky. Nahum foi fundador da Revista Senhor, diretor da Revista Manchete, jornalista de Última Hora, “O Lobo” e Jornal do Brasil. Em 1990, se instalou em Tel Aviv, onde foi correspondente dos empreendimentos jornalísticos dos seus primos até morrer, em 2015. Sani foi diretor de publicidade, superintendente e vice-presidente dos jornais de primo Samuel. Com a debacle do Império Wainer, passou a ser um dos mais importantes publicitários do Brasil. Nas páginas de “Zero a Zero e Hora a Hora” brilha o colunista David Coimbra, frequentemente citado por Célio Heitor Guimarães, em número de citações só perde para o Rubem Alves. Contudo, o mais famoso colunista do jornal de Porto Alegre é o Luís Fernando Veríssimo que, assim como o pai Érico, jamais quis saber da Academia Brasileira de Letras.

“Gaveta do Polvo”. Desde 1919 é o tradicional jornal da família paranaense. Publica, diariamente, dezenas de colunistas, mas mantém sob contrato apenas um: Pandolpho Philomeno (homenagem aos dois avôs) Paranhos de Medeiros e Albuquerque. Os Paranhos de Medeiros e Albuquerque, quando Curitiba completou 300 anos, já viviam aqui desde do ano de 1500. O primeiro deles chegou ao Brasil junto com Cabral e morrendo de calor na Bahia de Todos os Santos, emigrou para a Serra do Mar, onde, ao lado de muitos “pinhais”, construiu residência, ali no Lago da Ordem, ao lado da Casa Romário Martins. Pandolpho Philomeno é professor catedrático de aramaico, árabe, hebraico, persa, grego arcaico e moderno e latim clássico e vulgar da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Paraná, onde se encontra aposentado, pela compulsória, desde o dia 31 de dezembro de 1969. Pandolpho Philomeno é conservador nos costumes e liberal na economia, não tomou nenhuma dose da “vachina” contra a covid e nas eleições presidenciais cravou o 17 com muita convicção. Convicto se encontra até hoje, tanto que, em outubro, pretende votar no 22, mas está desesperançado, crê firmemente que o TSE, por não adotar o voto impresso e principalmente por aquele “careca”, vai fraudar a eleição para o “Novededos”. Nunca pensou em se candidatar à Academia Brasileira de Letras, já que aos 133 anos de idade, se considera imortal. A contratação de Pandolpho Philomeno foi um grande achado do jornal. Toda manhã chega na redação, abre suas redes sociais, vai correndo ler o “filho 02” e traduz para o vernáculo as palavras sem sentido algum do Carluxo. Depois, acrescenta verbo, sujeito, advérbio, artigos, pronomes, adjetivos, objetos direto e indireto, voz passiva e voz ativa, coisas que o Carluxo jamais imaginou que existissem. Ao final, tem um texto aparentemente legível nas mãos. Para que os leitores não descubram o truque, Pandolpho Philomeno passou a criar vários pseudônimos: Alexandre Garcia, J. R. Guzzo, Rodrigo Constantino, Guilherme Fiuza, Luís Ernesto Lacombe e outros menos conhecidos. Como a maioria do povo brasileiro é de direita, “nossa bandeira jamais será vermelha”, o jornal, desde que contratou Pandolpho Philomeno, passou a fazer muito sucesso. A edição digital tem mais de 50 milhões de acessos por dia e a impressa, vendida em todas as bancas do Oiapoque ao Chuí, ultrapassa um milhão de exemplares/dia.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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