Bolsonaro e Fernando Collor: as aparências enganam

Um provável governo de Jair Bolsonaro vem sendo comparado ao de Fernando Collor, que é algo que não concordo. De fato, Bolsonaro é diferente de Collor. Ainda que eu não fique surpreso se o Paulo Guedes, no comando da economia, em vez de ser um Posto Ipiranga, acabe virando uma Zélia Cardoso de Mello. Mas mesmo assim os níveis são muito diferentes. Collor foi um cangaceiro de Armani, já o tosco do Bolsonaro vai mesmo de Havan, sendo que em alguns casos serve até um supermercado Condor.

Enfim, Collor sabia cuidar da embalagem muito melhor que Bolsonaro, além de ter muito mais habilidade na manipulação do conteúdo. Também por isso, ele não fugia de debates. Ambos eram verde-amarelos, porém Collor não amarelava. De grosserias bem medidas, suas crueldades eram envolvidas nos melhores perfumes. Bolsonaro é um Collor mais raiz. Outra diferença poderá ocorrer também no clientelismo político e coisas piores que podem ser feitas em um governo. Collor contava só com um P. C. Farias, seu homem da mala. Se ganhar a eleição, tudo indica que Bolsonaro terá um monte deles.

No uso da máquina pública em favorecimento próprio, Bolsonaro terá ajuda até em casa. O nepotismo descarado, muito comum em sua carreira, permite prever que o Palácio do Planalto poderá até ganhar uma plaquinha de identificação como “ambiente familiar”. A vítima, é claro, será o Brasil acima de tudo. E com o perdão do trocadilho, que vem muito a calhar pelo uso em vão que é de costume do candidato, tudo será em nome do pai e em nome dos filhos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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