Quando os marajás usam farda

E os milicos, heim?! Tão coitadinhos, tão pobrezinhos, tão comportadinhos, tão esquecidinhos?! Comendo o pão que o diabo amassou e amargando soldos pífios e aviltantes?!

Isso até pode ter ocorrido, no passado, mas não agora sob a tutela do desequilibrado de Brasília. Até então, eram tidos como “marajás”, privilegiados e abonados, sem piedade com o erário, os magistrados e os procuradores, por baixo de suas capas pretas. Não são mais.

Levantamento feito pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) revela um escândalo sem precedentes envolvendo os tão corretos, probos, obedientes e patriotas homens da farda. Segundo balanço realizado pelo parlamentar, com base no Portal da Transparência, alguns militares, que dão serviço no governo do capitão, incluindo o atual candidato à vice-presidência da República, general Walter Braga Netto, receberam remuneração acima de um milhão de reais!

Duvidam? Pois anotem aí: o generalíssimo, ex-ministro e ora candidato à vice-presidência Walter Braga Netto recebeu, nos meses de março e junho de 2020, além do salário mensal, o valor bruto somado de R$ 925.950,40. O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, também almirante de esquadra, teria embolsado, no mesmo período, além do salário, R$ 1.037.015,42. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, nos meses de julho, agosto e setembro de 2020, recebeu uma bonificação de R$ 731.879,43 mais o valor do salário.

Também foram identificados supersalários entre pensionistas. Um deles teria recebido o valor bruto de R$ 1.560.647,10, somado ao salário mensal, no mês de janeiro de 2020. Já um tenente da Aeronáutica recebeu em fevereiro de 2020, além do salário, mais R$ 1.432.376,70. E um marechal-do-ar reformado da Aeronáutica teve um pagamento extra no mês de abril de 2020 de R$ 1.401.936.58.

O deputado Elias Vaz pretendia, na semana passada, requerer esclarecimentos do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Perda de tempo, deputado, s. exª. vai responder que foi tudo dentro da lei.

Não custa lembrar que 2020 foi o ano do início da pandemia da Covid-19, quando o governo limitou o pagamento do auxílio emergencial a quem estava passado fome.

Novo levantamento do parlamentar descobriu que cerca de 1,6 mil militares foram também contemplados neste ano com salários superiores a R$ 100 mil. Um dos beneficiados foi o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que tanto mal fez ao Brasil durante a pandemia de Covid-19. No último mês de março, Pazuello recebeu R$ 316.548,44, incluindo salário de R$ 32.633,40 mais R$ 282.623,84 de verbas indenizatórias.

Outro campeão de benefícios, no ano passado, foi o comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Jr., tenente-brigadeiro-do-ar. Em junho de 2021, ele recebeu um total bruto de R$ 818.902,09. Também foi aquinhoado o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), tenente-brigadeiro-do-ar Luiz Ricardo de Souza Nascimento. Em novembro de 2021, consta ter recebido R$ 719.724,85.

Já o chefe do Estado Maior, Laerte de Souza Santos, foi agraciado. Em junho de 2021, com um extra de R$ 286.663,36, além do salário de R$ 34,4 mil.

No entanto, de acordo com o jornal Estadão, o número um do ranking é um coronel, lotado no Comando do Exército, James Magalhães Sato, de 47 anos. Em abril deste ano, o pagamento líquido recebido por ele foi de R$ 603.398, 92, “valor correspondente a 38 anos de rendimentos de um trabalhador que ganhe o salário mínimo atual”. Aliás, o “montante também é cerca de mil vezes maior que o Auxílio Brasil, que terá valor médio de R$ 607 em agosto, segundo o governo”.

A lista é longa e está na internet, mas não vale a pena perder mais tempo nem espaço com esse tipo de patifaria.

“É um tapa na cara do povo brasileiro, que está passando uma das piores crises dos últimos tempos”, concluiu o deputado Elias Vaz.

E é essa gente que quer fiscalizar as eleições!

E os soldadinhos rasos, cabo e sargentos o que acham? Meu tio, padrinho de batismo, era militar. Quando passou para a reserva, como capitão, foi obrigado a procurar um emprego civil para poder viver e sustentar a família…

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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