O umbigo de Heloísa

Suas conclusões sobre mulher e relações familiares não vêm de nenhum estudo

Heloísa Bolsonaro acha que o Brasil é seu Instagram, ao qual ela se refere como seu “instrumento de trabalho”. Deve ter tirado de lá a inspiração para a sua fala num evento da campanha do sogro. Segundo ela, casamento é submissão. “Não se engane, nenhuma mulher é insubmissa, independente e livre”, fazendo um paralelo com as leis de trânsito. Para provar seu ponto, sugeriu que somos submissas porque respeitamos o sinal fechado.

Heloísa ignora que submissão feminina em qualquer contexto é uma das determinantes da violência de gênero, mas talvez isso não esteja no Instagram. A nora do presidente, mulher de deputado, foi apresentada como “mãe, psicóloga, praticante de tiro esportivo”. Um tremendo currículo para quem foi convocada para tentar reverter a ojeriza que Bolsonaro provoca no eleitorado feminino. O resultado é este.

Em 15 minutos, Heloísa atacou o feminismo, que seria responsável pela desvalorização do lar, da vida humana e da figura masculina. “Precisamos de homem com testosterona, um homem masculino.” Meteu essa. É cansativo, mas vamos lá. O movimento feminista é plural, somos muitas, somos diferentes, mas nenhuma de nós “precisa” de um homem. Não me casei com um porque “preciso”, mas porque quis, porque sou livre, independente e insubmissa, condição da qual não arredo os pés.

Heloísa Bolsonaro não conhece o país, não faz a menor ideia das condições e da diversidade da brasileira. Sua fala é um completo vazio de ideias, um ultraje a milhões de mulheres que não se encaixam no seu perfil de Instagram, que são chefes de família, que criam filhos sozinhas. A elas nenhuma palavra sobre desemprego, fome, violência doméstica.

Sugiro que Heloísa seja mais submissa ao IBGE, ao Ipea, à Cufa. Suas conclusões sobre a mulher, sobre as relações familiares, não são tiradas de nenhuma estatística, mas do próprio umbigo, o único lugar para onde ela parece olhar.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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