Justiça para quem resiste

O Brasil é um país de muitas Marielles e muitos Andersons, destroçado pelo absurdo, pela perda da sua identidade e pelo avanço da imbecilização coletiva. A milícia que executou a vereadora do Rio de Janeiro e o motorista que a acompanhava, na noite triste de 14 de março de 2018, e que inferniza a vida dos habitantes das comunidades das favelas, é a milícia amiga da família presidencial, com passe livre para agir e espaço cada vez maior no aparelho do Estado. É aquela que oculta a resposta previsível à pergunta que não se cala: quem mandou matar?

O Brasil é um país de muitos Genivaldos, vítimas da truculência policial sem limites, simbolicamente traduzida no improviso macabro da câmara de gás que sufocou o motoqueiro que circulava por uma via pública em Sergipe. Nazismo dentro da Polícia Rodoviária Federal, em maio de 2022, praticado fartamente por vários outros agentes públicos, em várias outras situações, durante quase quatro anos de um governo genocida, insensível e cínico.

O Brasil é um país de muitos Brunos e Dons, desaparecidos de terras indígenas por obra de grileiros, contrabandistas, traficantes de drogas, chefes do extrativismo e da violência, incentivados em seus crimes pela omissão oficial. Um país de sangue espalhado pelo chão, de matas queimadas, de veneno jogado nas águas, da miséria, da fome que cresce, da desesperança e das mortes em série.

Há de haver justiça para Marielle Franco, para Anderson Gomes, para Genivaldo de Jesus Santos, para Bruno Pereira e para Dom Phillips. E há de haver justiça para os milhões de brasileiros que não se curvaram (ou não se curvam) aos desejos obscurantistas do psicopata que pensa (des)governar os seus destinos.

Que o pesadelo, que as chamadas “instituições” deveriam ter eliminado há muito tempo, esteja perto do fim.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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