Após o salto da rã
O barulho da água.
Trata-se do haicai mais famoso de todos os tempos, o que não quer dizer que seja o melhor haicai do mestre. Hoje, aceita-se que foi apenas o poema que inaugurou a escola de Bashô, denominada Shôfû. Conta-se que ele estava reunido com os discípulos, quando apresentou os versos “kawazu tobikomu/ mizu no oto” (barulho da água após o salto da rã), propondo que alguém os completasse.
Como numa paródia, que distorce valores estabelecidos para gerar humor, a novidade de Bashô era que a rã não se fazia representar pelo seu canto, como na poesia tradicional, mas apenas indiretamente, pelo ruído de sua entrada na água. Kikaku propôs que o primeiro verso tivesse a palavra “yamabuki” (rosa japonesa, Kerria japonica), para formar uma combinação tradicional com a rã.
Mas Bashô, para assombro dos presentes, replicou com “furu ike” (velho lago), originando, assim, um foco de tensão entre a tranquila solidão do velho lago e o salto inesperado da rã que perturba o ambiente com seu barulho. O kigo (termo de estação) é kawazu, rã, correspondente à primavera.