Milagre na catedral

Entrou na catedral milenar e se sentiu como o arquiteto humano achou que o arquiteto de tudo recomendou. Um ponto minúsculo visto por algum marciano lá da casa dele. Fez o sinal da cruz e, assim que beijou a própria mão, foi invadido por uma luz que entrou pelo lado esquerdo. Na parede havia um vitral gigantesco, mas em meio aos desenhos e cores e santos uma janelinha se abriu.

E ele viu o telhado de uma construção ao lado. Era o contato com ele mesmo, ou seja, o real. Ficou ali parado, hipnotizado. As pessoas que passavam começaram a parar e olhar na mesma direção. Também pararam. Também se imobilizaram. Bastou um se ajoelhar e os outros fizeram o mesmo. Foi então que alguém disse que aquilo era um milagre, que um anjo tinha por ali entrado para abençoar a todos e ao templo. Ele então viu uma pomba pousar no telhado vizinho e, logo em seguida, um macho. Este rodopiou, se achegou e subiu na fêmea. (Cabeça de Pedra)

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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