Minha casa, minha vida

Companheiro Lula:
Agora que você voltou da China, onde foi liderando uma caravana de 200 pessoas, e já teve um tête-à-tête com o tal Xi Jinping, chegue-se à roda da fogueira. Sirva-se de um pinhãozinho sapecado. É um quitute paranaense, recém colhido, safra de 2023.

Agora, escute-me, excelência: algum tempo atrás, neste mesmo espaço, andei defendendo a vossa Janja. As más línguas começaram a chamá-la de Evita Peron, por me intrometer em demasia no governo do marido. Afirmei que era uma maldade para com ela, que apenas lhe fazia companhia e dava-lhe carinho. Mas agora, estou começando a me preocupar. Dona Rosângela, além de haver se tornado vossa sombra, tem dado palpite em tudo e se indisposto com meio mundo, ministros, parlamentares etc. Tudo bem, isso até faz parte do mundo brasiliense. Depois, alguns ministros, alguns parlamentares e alguns etcs até merecem uma ajustada, embora essa função deva ser, por competência administrativa, de V. Exª., pessoalmente.

Agora, essa comprinha de bens para remobiliar o Alvorada – com certeza, supervisionada por Janja – não pegou bem, Luiz Inácio. Setenta e cinco mil pilas por um sofá?! Deve ter feito Juscelino e Oscar Niemeyer, que projetaram, construíram e usaram o palácio presidencial, virarem-se nos túmulos.

Diz-se que o novo governo pegou o Alvorada em petição de miséria, sem manutenção, faltando móveis – segundo Secon, constatou-se a ausência de 261 móveis, dos quais 83 ainda não foram localizados. Nem cama foi encontrada no quarto presidencial. Terão os Bolsonaro carregado o mobiliário para sua nova residência?! Michelle, a ex-primeira-dama, nega: “Durante o mandato do meu marido, preservamos o Palácio da Alvorada, respeitando a estrutura que é patrimônio tombado e também o dinheiro do povo brasileiro”. Em seguida, afirmou que os móveis tirados do Alvorada eram seus. É algo que merece ser conferido.

Aí chegaram Lula 3 e Janja. Inicialmente, foram obrigados de hospedar-se em um hotel. Depois, saíram às compras. E, dispensando licitação, foram adquirindo: um sofazinho de couro, reclinável, de 3,06m x 1,10m, já referido, custou R$ 65.140; outro, um pouco menor, também de couro e também reclinável, R$ 31.690: uma poltrona ergométrica, reclinável e com um pufe na cor branca, R$ 29.450; outra poltrona fixa, em veludo azul, R$ 19.450; uma cama, com revestimento em couro, R$ 42.230; e um colchão masterpiece top visco, R$ 8.990.

Pô, companheiro, mesmo sendo nativo de Caetés, em Pernambuco, ninguém iria querer que vosmecê e a vossa Janja dormissem numa rede. Mas uma caminha de 42 pilas…?! E um colchãozinho de nove mil?!…

Tudo bem, o mobiliário passa a fazer parte do acervo da União e será utilizado pelos futuros chefes de Estado que residirem no Alvorada. Mas precisava ser tão caro, em época de penúria nacional?!

Foi coisa da Janja, não foi? Ela é informada, tem bom gosto e exige beleza e qualidade. Mas sujeita-se às críticas dos maledicentes. E a gente fica sem condições de defendê-la. Essa menina de União da Vitória…!

Sirva-se de mais um pinhãozinho, companheiro. E leve alguns para a Janja, que, como boa paranaense, deve apreciá-los.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
Esta entrada foi publicada em Célio Heitor Guimarães. Adicione o link permanente aos seus favoritos.
Compartilhe Facebook Twitter

Deixe um comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.